É a interacção corpo-ambiente que regula a experiência emocional
(Mensagem recebida)
Há dias, tem dias, meu estonteado admirador de mim e do meu saber, tem dias, há dias (e hoje é um deles) em que me apetece divergir um pouco, vamos lá. Ontem, enviei-lhe uma mensagem onde perorei sobre o significado de duas ruas iguais serem vistas como diferentes. Claro que não, digo, claro que sim, trata-se de uma ilusão óptica, adiante. Que, que lhe disse eu, recorda-se? Não?! Que surpresa minha nenhuma, disse-lhe: se ler a realidade é apenas uma questão de contexto e perspectiva, vou ali e já volto. E não é que fui e agora volto? E onde fui? E o que é que fiz? Calma, é disso que lhe vou falar. Pensei comigo: nós não somos máquinas a funcionar tipo estímulo-resposta, não somos, eu não sou, tenho a certeza, eu seja ceguinha de gota serena se não tenho a certeza. E, oh serendipidade minha, cheguei a casa com vontade de espiolhar o pensamento (acredite, é verdade) e decidi tomar um banho quente, daqueles compridos, isso, desses. Vai daí, desenvencilhei-me da roupa do dia e vi-me ao espelho. Céus, quando agora escrevo, ainda me divirto, seja: ainda me vejo (no espelho) a sorrir, matreira, sem roupa e a sentir as pulsações do meu coração equitativo e são (ups, rimou). Nossa Senhora da Beleza, então não é que eu sou como realmente me descreve nos seus textos e nos seus poemas! Vida, sinto-me bonita e com perfume de rosas, e gosto e gosto. Sinto-me tão eu e mim, tão mulher linda que até faz impressão! Adiante, tropecei numa parcela de doçura; mas sim, claro que sim, aprecio deveras que sorria deste meu desabafo. Porém, também (xô, rima) importante foi o meu grito de "eureka", seja: antes de tomar banho tinha acabado de descobrir porque é que ler a realidade não é apenas uma questão de contexto e de perspectiva. Não entende? Ui, que lerdinho me saiu! Claro que entende. Ora oiça com ouvidos de perceber. Naquele momento (antes de tomar o meu banho quente com meu corpo e a minha memória e minha inteligência deveras activos) eu tive a certeza de que a experiência emocional e a exploração do contexto e da perspectiva não são apenas desencadeadas por estímulos ambientais, seja, que o cérebro regula ambas (a experiência sensorial e a exploração do contexto e da perspectiva) a partir da percepção do próprio corpo e do contexto espacial, em relação um com o outro: eu estava ali, eu e mim como sou. Acredite, verdadinha, senti mesmo no meu "eureka" o eco do "eureka" de Arquimedes. Adiante... Hoje, manhãzinha, garimpei nalguns (muitos) estudos e encontrei neste (retirei de lá a imagem que lhe envio), encontrei nele quase tudo (quase tudo, assim é que é) o que eu andava à procura, quase exactamente o que eu intuí e senti. Que quer, sou assim, de nascença inteligente e emocional, que se há-de fazer!
Adenda
Ah, já me esquecia de lhe dizer que, enquanto eu me olhava (matreira e divertida) no espelho, uma minha canção (das mais preferidas) andava de amores, mesmo ao meu lado, com um poeminha seu (que se tinha pirado do meu caderninho de rabiscos e memórias), este: canto tudo o que é teu/o corpo a alma o sorrir/tudo o que um deus te deu/e ainda mais o que de ti há-de vir. Quanto tanto me diverti (e gostei de ver) esta minha canção (em intimidade ternurenta fogosa) a aninhar-se no seu poeminha, tão lindos! A imagem deles, noite adentro, não deixou de me aparecer sempre que o meu sono se entreabria, vida!
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