Só quando reparamos, começamos a ver
“Gosto
da palavra reparar, pois transporta para o ato de ver uma polessemia
e uma ética. Reparar introduz-nos por si só numa lentidão, porque
aquilo que alude não é um observar qualquer: é um ver parado, um
revisitar porventura mais minucioso do que o mero relance; é uma
visão segunda, uma oportunidade concedida não apenas ao objeto, nem
sequer apenas ao olhar, mas à própria visibilidade, isso que
Merleau-Ponty dizia ser o único enigma que a visão celebra. Mas
reparar é mais do que isso: põe também em prática uma reparação,
um processo de restauro, de resgate, de justiça.
Como se a quantidade de meios olhares e sobrevoos que dedicamos às
coisas fosse lesivo dessa ética que permanece em expectativa
no encontro com cada olhar. Por isso, de certa forma, só quando
reparamos começamos a ver.”
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