A música e o jogo de tensões na voz feminina

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(Mensagem recebida)
Bom dia, meu desconfiado e ciumento admirador, bom dia neste domingo com sol e frio (alto aí, eu não disse com sol frio, disse com sol e frio, se o dia estivesse com sol frio, vida, coitado de si que tem muito de vida de raposa e pouco de vida de ouriço - ou será o contrário?). Adiante, que tenho algo para lhe contar. Então é assim. Andei por aí a treinar cantorias (e se não andei, é como se tivesse andado); e, vá lá saber-se porquê, dei de caras com a música de Luciano Berio (não sabe quem seja, vida, sempre a mesma coisa, adiante). Foi assim. Primeiro, passei-me a ouvir e a espreitar e a treinar a minha voz na "Sequenza III" (uma vez e outra vez); em seguida, esmeraldei-me (sou esmeralda por herança genética - acorda Lamarck!), e descansei: vagueando e deambulando à Proust (entregue ao sortilégio das minhas evocações) por umas sinuosas veredas poéticas (metáforas de mim) que eu cá conheço; finalmente, fui ler, digo, estou a ler as tensões na "Sequenza I" (pp. 181 a 194)... Ainda (aqui para nós que ninguém nos ouve), ainda não estou em mim, fui atrás da minha voz que se perdeu em pensamentos vadios e nem sabia como regressar; voltei ao anoitecer (lentamente) com a minha sensibilidade beriana a tiracolo e com os meus olhos grandes artilhados em faróis de nevoeiro, ainda senti palpitações subtis por debaixo da geada que poisava e corei (que quer!) quando um pardal atrevido me atirou um "olá, linda"; não há têmpera igual à minha, reconheça. Como é que é? Céus, Nossa Senhora da Via Graça! Não me diga (estou a auscultar a sua alma aninhada em mim), pensa mesmo (se pensa, já é filósofo, e já não é coitado: largue a azémola ronceira da tristeza e cavalgue no ginete veloz da alegria), adiante, (raio de vírgulas, que praga), pensa e acredita (acreditar é ter fé) que eu sou a mistura (mélange, diz-se em língua francesa), sério, pensa mesmo que eu sou a mistura daquelas duas cantoras, vida, acudam, e não é que eu penso o mesmo, pode lá ser, mas não é que é! Até me belisco...
Adenda
Sabe que mais, meu ainda admirador de mim única, descobri. Descobri, no jeito do Hubert Reeves, que sou um universo organizado e complexo e que ando à procura do meu big bang. Pronto, sou assim, de nascença, que se há-de fazer! Mais: como quem procura, vou dar uma longa e curiosa volta de leitura pela "A Criação do Mundo" de Miguel Torga, quem sabe (serendipidade a minha!) também eu por lá ande atarefada e disfarçada em fada (rimou duas vezes, ups).
Adendinha
Pergunta que me incomoda (por causa da minha pesquisa sobre o meu big bang): "A matemática (pelos seres humanos) foi inventada ou foi descoberta na Natureza?". Não percebe a pergunta, não entende o seu alcance, não sabe a resposta? E eu admirada, olha a novidade!

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