Que me diz? Sei: não tem palavras, pois é, percebo

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(Mensagem recebida)
Garanto-lhe, meu admirador de mim (sempre ciumento e zangado), garanto-lhe, seja eu ceguinha de gota serena se não for como eu digo, garanto-lhe que não tenho feito asneiras, o que a sua mente lhe diz não é a verdade nua e crua. Adiante... Veja bem, hoje, que é o dia a seguir às eleições autárquicas (em Portugal), apeteceu-me (com fundo musical) reler um texto seu sobre o papel do Estado segundo Espinosa, vem mesmo a calhar. Depois, céus, depois é que foram elas: embrenhei-me na leitura do livro "Ao Encontro de Espinosa" do nosso excelente Damásio. Passei-me dos carretos, então não é que Espinosa diz que "o objecto da ideia que constitui a mente humana é o corpo, o corpo tal como actualmente existe (...); e daí que  o objecto da nossa mente seja o corpo tal como existe e nada mais"? Acudam, eu penso como ele, pode lá ser, sou espinosana de gingeira, que sina! Sabia, meu admirador, que a mãe do Bento Espinosa se chamava Hanna Deborah? Não sabe, adiante... Perdida nos meus pensamentos e sem saber para onde me virar, vida minha, ainda li uma "Carta a Spinoza" do Fernando Savater (atente na imagem que alude à Sefarad e recorde alguns desenhos meus, vida). Agora, demore-se, sugestão minha, demore-se um tempinho (longo) num excerto sobre o Deus de Espinosa. Santo Deus! Olhe só como Ele fala! Ora oiça, digo, ora leia e oiça-O:
"Pára de ficar rezando e batendo no peito. O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e que desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, que te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. 
Pára de me culpar da tua vida miserável. Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho. Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais dizer-me como fazer o meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbítrio. Como posso culpar-te, se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso castigar-te por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita o teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas. Eu fiz-te absolutamente livre. Não há prémios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placard. Ninguém leva um registo. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso dar-te um conselho: vive como se não o houvesse, como se esta fosse a tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.  Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.  E se houver, tem certeza que Eu não te vou perguntar se foste bem comportado ou não. Eu vou perguntar-te se tu gostaste, se te divertiste, do que mais gostaste, o que aprendeste.
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.  Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas a tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. 
Pára de me louvar. Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Sentes-te grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Sentes-te olhado, surpreendido? Expressa a tua alegria: esse é o jeito de me louvar. 
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.  A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para quê tantas explicações? Não me procures fora, não me acharás. Procura-me dentro de ti, é aí que Eu estou.”
Que me diz? Sei: não tem palavras, pois é, percebo.

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