O que os olhos vêem só o desenho o sabe
(Mensagem
recebida)
Reconhece,
reconhece, meu admirador de mim ainda (e por enquanto) mais que preferido,
reconhece esta nova perspectiva do desenho (olhe para a sua esquerda) que hoje
lhe envio? Reconhece, gosto, reconhece que é uma perspectiva de um desenho meu,
digo, um desenho das minhas mãos, das minhas mãos perfeitas, Santo Deus,
não sei se lhe conto, céus, conto. As minhas mãos, em dias que desenham,
sobram-me do corpo, separam-se dele em linhas de escrita-fora, são o meu eu não
físico, dão-se a ver como um rosto e eu as espio com os meus olhos grandes sem
entender o labirinto desenho aleatório que elas engendram, vida: os meus
desenhos mais parecem metáforas de silêncio, um silêncio silencioso em que as
leituras são possíveis de fazer a partir de qualquer ponto. Adiante que me perdi na escrita. Resolvi escrever-lhe esta notinha matinal por duas razões. Uma, porque ontem, ao
deambular por um livrito, dei com uma frase de Almada Negreiros (que se aplica
que nem luva de pelica aos meus desenhos), esta genial frase: “Os olhos são para ver e o que os olhos vêem
só o desenho o sabe”. A outra razão, porque quando também ontem li na sua mente (entro na sua mente quando me dá na real gana, bem sabe que sim), quando li, dizia eu, o escopo do poeminha que eu inspirei em si, as minhas mãos sobraram-me, autonomizaram-se, vida, não digo mais... Sério, quer mesmo, quer que eu transcreva aqui o poeminha inspirado no meu corpo? Quer mesmo? Céus, estou coradíssima, aí tem o poeminha, corridinho como convém: "Em pé aí está/completo e uníssono/encimado por olhos e narinas finas/num eixo vertical sob duas colinas/ a linha do ventre dividido geometricamente/o umbigo e o sexo/e os pés alados desenhados a prumo sob o rumo dos joelhos...". Meu admirador de mim única, tão corada estou que tudo alumio à minha volta, mas (cá para mim) o seu poeminha é assim a modos que um desenho feito com palavras, concorda? Percebi, não só concorda quanto também pensa que a frase do Almada Negreiros se aplica aos seus desenhos feitos com palavras. Preocupado, está muito preocupado por eu entrar na sua mente quando me apetece? E eu ralada!
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