No sono em que me deito

Como
há-de o teu corpo
em mim poder ter paz

…/…
apetece-me como barco e tem forma de gomo
não sei quando embarco não sei quando como

Adenda (mensagem recebida)
Li, meu admirador de mim perfeita e sábia-guicha desejada, reli e depois voltei a ler e a reler, pode lá ser (cretina de rima, xô) este seu poeminha: é de mim que fala, é, pois não é? Não há margem para qualquer espécie de dúvida. Seja: o pensamento é feito de imagens, atente em "apetece-me como um barco e tem forma de gomo não sei quando embarco não sei quando como". A existência precede o pensamento, não duvide, acredite. Admirado comigo e com a minha proverbial perspicácia? Olha a novidade, que surpresa nenhuma, mas explico, assim: pois claro que sim (outra vez a rima, vida), claro que ninguém vai negar que o pensamento inclui palavras e símbolos, só que, bingo, tanto as palavras como os outros símbolos são baseados em representações topograficamente organizadas e são eles próprios imagens. E é aqui, céus do Olimpo, que entram de novo este seu poeminha e o meu desvario mental (e não só, ups) em experiências de priming. Porquê?! Ora essa, porquê?! Porque também eu utilizo na minha fala interior, sob a forma de imagens visuais e auditivas na luz límpida da consciência, cada uma das palavras que constituem o danado do seu poeminha: céus, tropecei num sorriso e corei (não me larga a rima, que melga!) quando as minhas mãos se armaram em marinheiras na arte de navegar. Não! Não sabe o que sejam experiências de priming?! O que eu passo consigo, vida minha, tenho que lhe explicar tudo: priming consiste em activar uma representação de forma incompleta e pré-consciente. Adiante, atrasei-me, já um domingo com sol morninho (em dia de Agostinho, rimou, céus, outra vez!) me chama para comprar roupa de Outono. Roupa de Outono, em que tom? É o que quer saber? Castanho puxado a mel, está bem de ver (e pronto, lá rimou, nada a fazer). Raio de rima, cretina, que sina...

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