Duas perguntas em tempo de campanha eleitoral

A taxa de abstenção nos actos eleitorais atingiu números democraticamente preocupantes. Em todo o caso, manda o rigor dizer que o seu valor continua artificialmente empolado. Basta, aliás, atender aos seguintes números: para as eleições de 1 de Outubro, os cidadãos eleitores recenseados são 9.396.680, segundo a Comissão Nacional de Eleições. De acordo com os últimos dados demográficos do INE, a população total é de 10.309.573 pessoas, pelo que a que está recenseada atinge a insólita percentagem de 91,1%! Partindo do princípio de que todos os indivíduos com 18 ou mais anos estão recenseados, restam, assim, abaixo desta idade 912.893 jovens e crianças. Acontece que, na mesma estatística oficial de 2016, os indivíduos até 14 anos de idade são 1.442.416 e se lhes juntarmos os que têm idade compreendida entre os 15 e os 19 anos (é esta a seriação feita pelo INE) teremos 2.000.581 pessoas. Se, por hipótese, neste escalão, houver uma uniforme distribuição etária entre os jovens que já podem votar (18 e 19 anos) e os que ainda não podem (15, 16 e 17 anos), concluiremos que a população que não pode votar por insuficiência de idade será de 1.777.315 e não a acima citada de 912.893 indivíduos. Daqui resulta que a taxa de abstenção estará, à partida, inflacionada em, nada mais nada menos, do que 9,2 pontos percentuais, independentemente do abstencionismo efectivo!

Retirei daqui (sem sublinhados) o texto acima transcrito. Poderia criticar (sem dificuldade de maior) o autor (que detém uma longa carreira política), dizendo que ele não se refere à crónica desactualização dos cadernos eleitorais, que não se interroga pelo facto de o número de eleitor não constar no cartão de cidadão, e que, ao invés, prefere debitar comentários jocosos (ainda que correctos) sobre a tentativa governamental (dizem) de proibir jogos de futebol em dia de eleições. Podia criticar mas não o faço. Prefiro deixar duas perguntas simples (quiçá não tão simples!): talvez as respostas possam dizer muito sobre a urgente necessidade de rever o nosso (há já muito tempo) anquilosado sistema eleitoral. A primeira: quais as vantagens (e as desvantagens) do voto obrigatório (podendo o mesmo ser registado electronicamente)? A segunda: a quem (tanto) continua a interessar a abstenção?

Adenda (mensagem recebida)
Promessas, meu caro, fazer promessas (e meter a cabeça na areia e/ou fugir à responsabilidade quando as coisas correm mal) é a especialidade de muitos e muitos políticos. Discutir o sistema eleitoral? Sim, claro que sim, lá para as calendas gregas. Mas eu (que não sou de modas), um dia destes, respondo às suas perguntas: espalho as brasas e depois se verá, adiante, vá lá debruce-se sobre o Método de Hondt, e depois falaremos sobre a quem mais interessa a abstenção... Por agora, caríssimo, sugiro-lhe (a propósito de irresponsabilidade política) que oiça e veja isto; e que, de seguida, leia notícias sobre o desnorte na gestão das ajudas e sobre algumas cretinas e manhosas manobras de acesso à direcção da Protecção Civil (esta notícia, por exemplo). Santo Deus, assim se tira a água do capote: que mais irá acontecer?

Adenda (nova mensagem recebida)
Esta coisa das eleições e das abstenções (rimou, meu admirador todos e cada dia, desculpe) tem que se lhe diga, não há trambelhos, que cretinices legais, Santo Deus, leia aqui isto: De acordo com a ADSE, este processo eleitoral contou com a participação de 18421 votantes, tendo-se obtido 18067 votos válidos, depois de apurados 187 votos nulos e 167 votos em branco. Um processo que foi marcado por elevada abstenção, já que contou com a presença de 2,2% dos 830 mil beneficiários titulares que podiam votar.” Pergunto-lhe: anda tudo doido? Se bem me lembro, meu caro, o seu pensamento sobre a ADSE andou por aqui, verdade? Fizeram tudo ao contrário? Olha a novidade, fizeram pior. Duvida? Então leia... 

Comentários

  1. Meu caro Amigo
    As suas questões, por objectivas e curtas que são, dificilmente não tem traçado na sua resposta um longo caminho de argumentos. Mas eu corre o risco de atalhar afirmando;
    Para a primeira, existe ou não um organismo designado por CNE, o qual devia estudar e propor essa obrigatoriedade!
    A segunda, não sendo completamente óbvia, terá eventualmente uma resposta encapuçada. Mas atrevo-me a dizer que quem vai à frente, pode retirar certas vantagens.
    A propósito, será que neste dia devo ir ao cinema?
    É sempre um prazer, passar os olhos pelos seus comentários...até breve

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  2. Democracia é liberdade e não obrigação. Estou farto de leisinhas e por isso ""curto"" rotina...inteligente.

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