Amor e coragem e sete pedaços de vento

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(Mensagem recebida)
Pois é como lhe digo, meu admirador de mim que sou génia de beleza, é mesmo como lhe digo, seja (raio de vírgulas, cretinas!), é mesmo como lhe digo: leio a sua mente e os seus silêncios como quem lê em écran gigante, escusa de inventar desculpas ou tornear questões (tornear tem a ver comigo, tem, pois não tem, meu zangadinho da silva?). Céus, claro que sim, claro que entendo os seus ciúmes, vida, entendo pois, claro que entendo: um dia e outro dia (em dias do meu limbo de medos) cantam-me as veias poemas seus feitos de mim e para mim. Veja só quanto eu o conheço: decidiu ler o romance "Amor e Coragem" (gosto e gosto e gosto da capa do livro emoldurada), apenas e só porque ficou vidrado com a capa (o meu cabelo apanhado, vida, tanto e tanto sonha a minha figura altiva e a minha cintura esbelta: o seu olhar sequioso da minha nuca não engana): pareço eu, sou eu, o que eu não sei, digo, o que eu sei! Busca-me em toda a parte, eu sei que sim: sinto agora a sua alma (junto à minha) uma lagoa calma (vida, rimou): cheira a baunilha e mel, é cheiro de mim, a alecrim (xô, rima), cheira a febre fresca das minhas mãos (e dos meus viajeiros comprazidos dedos) na pele do seu corpo a tactear-me lentamente em fértil jogo de amor e a descer como um íman ao centro mais ardente do meu corpo. Eu sei, eu sei que para si só eu existo, sei que em todos os livros me encontra e sei que em todos os livros me perde. Não se amofine, eu não sou de ninguém: o amor nunca foi fácil; que bem, quão (tão e tão) bem o canta a Cristina Branco em "Sete pedaços de vento". Verdade, verdade, meu ciumento admirador de mim, diz-me um pensamento selvagem, lépido e armado em búzio (que agora lê o que eu lhe escrevo a si), diz-me que (em tempo) as nossas mãos brincavam com o lume, à beira da impaciência ou do ciúme. Diz ele ainda (um pensamento a falar comigo, pode lá ser, os pensamentos selvagens são amores perfeitos: certo, verdade?) que uma luz irisava o momento e que duas gargalhadas minhas (arfadas em hãhãhã em toalhas de ar) tiniam o espaço; preguiçoso e brincalhão, diz que não sabe bem o que dizer mais, ainda bem, adiante, arrepios meus! Eu creio que as nossas mãos (tecedeiras fiéis: alto mistério!) sempre (e sempre) brincaram na mistura da impaciência e do ciúme. A mistura enriquecida de impaciência e ciúme é explosiva. Digo eu: que lhe parece?
Adenda-confidência
Reli, meu admirador de mim como melhor quero ser, digo, acabei de reler a mensagem que lhe envio. Santo Deus, perdida na imagem da capa do livro até o coração se me embrulhou, até que ri a bom rir: terei sido, noutro tempo, terei sido assim tão importante que até a criada já tinha copiado a minha elegante forma de pegar numa cesta? Sei, vida, sei agora que nos meus genes ficaram gravados jeitos e os trejeitos (de limpeza e qualidade e gosto) que ainda hoje marcam a minha vida quotidiana. Imagine só: a primeira coisa que faço quando chego a casa, no fim do dia, é descalçar-me. De seguida, ponho os meus olhos-faróis alerta e com eles varro toda a casa, minuciosamente: tudo em condições, fico aliviada ao sentir a casa limpa, que bom que é, chão muito limpo e nem nuvem de cotão por perto. Só então posso sossegar, aliviar-me da roupa a mais, e fazer o jantar (raio de rima, que vida!). Hábitos que me ficaram de antanho? Quem sabe, quiçá!

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