A propósito do "Naufrágio da nau S. Bento"
(Mensagem recebida)
Pois foi, pois é, que quer, meu admirador de mim, deu-me para procurar pinturas em que me revejo, na imagem e nos pensamento escondidos. Uma dessas imagens é que a hoje lhe envio: uma pintura de Vladimir Volegov. O estilo é de mim, inteirinha, muito eu, verdade? Muito bem, vamos lá pensar um pouco, agora que já está sintonizado comigo. Que coisa, que vida, pode lá ser, sem me sintonizar (assim a modos de quem liga o rádio) não consegue escrever? Santo Deus, conte-me, que nome tem isso? Inspiração, presença, a vida respira, o meu corpo navega-lhe nas veias e povoa de imagens de mim a sua solidão habitável? É tudo isso, gosto, adiante. Sabe que livro estou a reler, pois espante-se: a "História Trágico- Marítima" de Bernardo Gomes de Brito; sabe lá, quando comecei a ler o "Naufrágio da nau S. Bento" soltou-se-me um daqueles meus arroubos "ai que, premonitóriamente, bem pode ser o parlamento". Ri a bom rir. A verdade, verdadinha, é que este mês de Agosto continua a ser mês de fogo e, ó céus, o país da televisão, dos ministérios e dos partidos até parece que está a cair de podre. Digo que raramente me engano, digo eu que a pinguinha de esperança que resta, está no Portugal desconhecido, um país olvidado que só aparece nas televisões quando suas excelências (do governo e dos partidos) o visitam, debitando inutilidades e arrotando a postas de pescada. É um país, meu admirador, é um país capaz de se olhar de frente, capaz de sacudir todo o tipo de cangas (e tropas fandangas), ergue-se quando menos se espera, sem alarde, nem retorno, passa a ser dono do seu destino, identidade é isso, a identidade de um país que ousa perseguir os sonhos. Sei, sei, digo, adivinho o seu pensamento: está vidrado na imagem de mim, está preso nos meus pés e nas minhas mãos, nos meus dedos tácteis e fugitivos, sensíveis e indecisos. Pois foi, pois é, mas agora não é hora (xô, rima); agora, isso sim, quero deixar-lhe (para pensar) o último parágrafo do "Naufrágio da nau S. Bento" que se adapta que nem luva aos dias de hoje (salvo seja), ora leia: "Praza a N. Senhor, por cuja alta bondade destas cousas escapámos, tomar-nos o passado por penitência de nossas culpas, e alumiar-nos da sua graça, para que ao diante vivamos de maneira, que lhe mereçamos despois dos dias da vida que ele foi servido, dar-nos para a alma parte em sua glória". Para terminar esta mensagem (que longa já vai): se me pergunta o que agora faço, pois lhe digo que na madrugada vejo o seu e o meu rosto na enseada (rimou, ups).
Adenda
E se hoje (tarde adentro) arriscar dormir uma sesta com música e canções lindas em fundo? Que tal, vale? Belíssimo, é vero?
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