Adiante, já lhe tinha dito que gosto de papoilas?

(Mensagem recebida)

Que quer, meu admirador de mim, há dias que até a mim me surpreendo, seja, dei comigo a descansar perto de num regato de água fresca; e, céus, emprestei os meus olhos grandes a um campo de papoilas nas redondezas (há quem diga papoulas) e adormeci. E que sonhei eu? Não sabe, mas eu lho digo. Enquanto cantarolava as papoilas do Lopes Graça (conhece, pois não conhece?), veio ter comigo uma obra de arte de Kees van Dongen, belisquei-me, e, céus, suspirei: já fui papoila, os meus olhos grandes são de papoila, e uma papoila (tanto quanto eu) tem um pezinho fininho e alto. Meu admirador, meu admirador, sinto o que sente, que quer, parece impossível mas não é, um pezinho tão fininho aguenta a papoila porque a papoila não pesa quase nada. Se são frágeis as papoilas? Sim são, tão frágeis são (xô, rima) que por vezes parece que são tristes, mas não, são alegres, seja: em dias de sol dão gargalhadas de fogo; e, guichas, até parece que sabem tudo, filosóficas e profundas, mesmo que possam parecer descuidadas e juvenis. Porém, ninguém (raio de rima, xô), ninguém sabe como é que uma papoila é realmente: as papoilas (bonitas, torneadas, sábias, esquivas) são muito independentes e nunca se deixam cativar. Adiante, já lhe tinha dito que gosto de papoilas?