A arte de escrever

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Pensar por si mesmo
§8. (p.49)
Assim como a leitura, a mera experiência não pode substituir o pensamento. A pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e a assimilação. Quando a experiência se vangloria de que somente ela, por meio de suas descobertas, fez progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.
Sobre a escrita e o estilo
§11. (p.79)
O estilo é a fisionomia do espírito. E ela é menos enganosa do que a do corpo. Imitar o estilo alheio significa usar uma máscara. Por mais bela que esta seja, torna-se pouco depois insípida e insuportável porque não tem vida, de modo que mesmo o rosto vivo mais feio é melhor do que ela. Assim, quando os autores escrevem em latim e imitam o estilo dos antigos, é como se usassem máscaras, ou seja, ouve-se bem o que eles dizem, mas não se vê sua fisionomia, o estilo. No entanto, a fisionomia e o estilo são vistos nos escritos latinos de quem pensa por si mesmo, dos escritores que não se habituaram àquela imitação, como por exemplo Scotus Erígena, Petrarca, Baco, Cartesius, Spinoza, Hobbes, entre outros. A afetação no estilo é comparável às caretas que deformam o rosto. A língua em que se escreve é a fisionomia nacional, que apresenta grandes diferenças, da língua grega até a caribenha. Devemos descobrir os erros estilísticos nos escritos dos outros para evitá-los nos nossos.
Sobre a leitura e os livros
§5. (p.130)
Assim como as camadas da terra conservam as séries das criaturas vivas de épocas passadas, também as prateleiras das bibliotecas conservam em série os erros do passado da maneira como foram expressos; erros que, como aquelas criaturas, eram bem vivos em seu tempo e faziam bastante barulho, mas agora permanecem ali rígidos e petrificados, num local em que apenas os paleontólogos literários os observam.
Sobre a linguagem e as palavras
§1. (p.145)
A voz dos animais serve unicamente para expressar a vontade, em suas excitações e movimentos, mas a voz humana também serve para expressar o conhecimento. É por isso que os sons feitos pelos animais quase sempre nos causam uma impressão desagradável, com exceção de algumas vozes de pássaros. Na origem da linguagem humana se encontram certamente, em primeiro lugar, as interjeições, com as quais não se expressam conceitos, mas sentimentos, movimentos da vontade, assim como nos sons dos animais. Logo depois apareceram diversas espécies de interjeições e, a partir dessa diversidade, ocorreu a passagem para os substantivos, verbos, pronomes pessoais, e assim por diante. A palavra dos homens é o material mais duradouro. Se um poeta deu corpo à sua sensação passageira com as palavras mais apropriadas, aquela sensação vive através de séculos nessas palavras e é despertada novamente em cada leitor receptivo.

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