Educação e Ensino: três mitos a ter em conta

Image result for novas salas de aula todos ensinam todos aprendem Bernardo Mendonça e Isabel Leiria.
Será que sim?
(...)
Kirschner e Van Merriënboer evidenciam três mitos de educação prevalecentes, ligados à falácia de que são os alunos que devem dirigir a sua educação e não os professores. Estes mitos estão em conflito com o conhecimento da ciência cognitiva e das melhores práticas de ensino. É preciso que os professores percebam isso de modo a organizarem aulas de alta qualidade. 
primeiro mito é que os alunos hoje são "nativos digitais" e, consequentemente, a sua educação deve envolver a imersão na tecnologia digital. O trabalho de Kirschner e Van Merriënboer conclui que a aprendizagem se ressente quando o ensino se centra na aptidão técnica. 
segundo mito é que os alunos têm estilos de aprendizagem únicos e que a educação deve ser adaptada ao seu estilo. Considerando a minha experiência, posso afirmar que este é um mito particularmente persistente nas escolas inglesas. A Fundação de Educação Endowment - uma instituição independente criada pelo governo em 2011 para identificar o que funciona na educação - concluiu o seguinte: os estudos em que as actividades de ensino são dirigidas a alunos específicos com base num "estilo" não demonstraram de forma convincente qualquer benefício importante, em particular para os alunos de baixo nível de escolaridade (...). Kirschner e Van Merriënboer concluem igualmente que não há nenhuma evidência sólida de que “estilos de aprendizagem” existam, de facto, e que não há qualquer benefício na adaptação da instrução a esses supostos estilos. Os investigadores da referida fundação também observam que o ensino direccionado para os estilos de aprendizagem pode ter um efeito negativo nos resultados dos alunos.  
terceiro mito é que tudo o que se pode aprender na escola se tornou redundante, pois uma quantidade aparentemente ilimitada de conhecimento encontra-se armazenada nos dispositivos móveis dos alunos e acessível com um clique. Agora os alunos têm tudo o que é necessário para descobrirem o que quiserem. O corolário desta crença é que o ensino deve centrar-se em competências, sobretudo competências genéricas. Este argumento é intuitivamente atraente dado o boom tecnológico que estamos a viver mas não é novo. Em 1914 foi dito que “as pessoas educadas não são aquelas que sabem tudo, mas sim aquelas que sabem onde encontrar, a qualquer momento, a informação que desejam”. Foi errado em 1914 e está errado agora. Como ED Hirsch escreveu em 2000: “há um consenso na psicologia cognitiva que é preciso ter conhecimento para adquirir conhecimento” (...). Não basta fornecer ferramentas aos alunos para eles encontrarem conhecimento. Décadas de pesquisa dizem-nos que, a fim de dar sentido e reter novas informações, os alunos devem ter informações prévias às quais ligam novas informações.  
Proporcionar aos professores investigação de alta qualidade evita que caiam nestes e noutros mitos tão sedutores quanto falaciosos (...).
(…)
Retirado daqui.
Adenda (mensagem recebida)
Gosto, meu admirador ciumento, gosto que tenha divulgado esses três mitos: sei do que falo e até sei que são mitos, mesmo mitos. Lembra-se de quando a corrente "Escola Moderna" estava em voga e fazia apologia (rimou, ups, rimou em ia) dos mesmos? Óbvio, nem mais: alunos "autónomos" mas sem conhecimentos básicos e muito mal preparados para a vida, seja, liam mal, não tinham hábitos de escrita, fracos a matemática, nenhuma noção da sequência temporal dos factos históricos e da importância de compreender o passado para melhor entender o presente, crença que liberdade é fazer o que dá na real gana sem respeito pelos limites... Adiante que hoje o dia me chama e ontem o tempo me faltou. Porquê?! Ora essa, porquê, coisas minhas, está bem de ver.

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