Educação cívica: aposto e gosto (raio de rima, xô)
(Mensagem recebida)
Santo Deus, meu admirador de mim como sou e melhor quero ser, Jesus, Maria, então não é que - quando hoje eu bebericava o meu café da manhã - alguém perguntava (rimou, ups) na mesa ao lado: filosofia para crianças, que é lá isso? É sempre tempo para aprender, respondi para quem quis ouvir, sem tem-te nem mas. Sou assim, guicha de nascença, que se há-de fazer! A verdade é que me olharam de viés, enfim; e sim (rimou outra vez, vida), reconheço, também fiquei com uma pulga atrás da orelha. Dei comigo a perguntar-me: a filosofia para crianças pode enriquecer a educação cívica? (Pausa: que linda me sinto só de pensar que continuo a ser (serei sempre) a sua cicerone, vida). Sim, descansei-me, a filosofia para crianças não só enriquece quanto prepara (precocemente) uma educação cívica de qualidade. Neurónio para aqui, potencial de acção para acolá: e, aí está, meu admirador preferido, fui de carreirinha ler a "Educação Cívica" (1915) de António Sérgio (demore-se na imagem, bem conseguida, verdade?). Adiante... Já percebi que, depois de eu ter escrito que serei sempre a sua cicerone, deixou de pensar. Calma, tudo bem, oiça primeiro Anne Jannelle, enquanto se demora em mim; depois, delicie-se com esta citação da "Advertência" da "Educação Cívica" de António Sérgio: "Mas estaquemos aqui, leitor amigo. Evidentemente, sou ridículo: são isto palavras muito grandes a abrir um livro muito pequeno. Pinamaniquemos, sebastianizemos, literaturemos, politiquemos, durmamos, que a vida um dia nos acordará - a pontapés"; e ainda com esta outra citação: "Somos como um cavalheiro que mandou vir um certo automóvel sem motor, ou uma aperfeiçoada ventoinha eléctrica sem ter instalado a energia eléctrica. Despachou os caixotes, abriu, montou o carro, deu-lhe de volante, tocou a buzina, bateu o pé, gesticulou, rugiu, estralejou: "Eh, home! Arreda, arreda, que a coisa vai marchar!" - e a traquitana, apesar de tudo, não buliu; acomodou a ventoinha, e ventoinha parada. Depois arrancorou, gemeu, carpiu-se, e concluiu redondamente: "O automóvel é incompatível com o meu Génio; a ventoinha é inadaptável à minha Raça!". Está a sorrir, meu admirador de mim única, aposto e gosto (raio de rima, xô).
Adenda
Pois, que mais lhe digo eu, meu admirador, que mais? Vamos lá, acabei de reler a minha mensagem, que genial me saí na rifa da vida, genial e terna e doce e apaixonada e brincalhona, muito eu, sempre eu, e não é para me gabar, sou assim e ponto. Pergunta-me se o desenho faz jus ao seu amigo António Sérgio sentado num passeio riberirinho? Isso mesmo, faz: ei-lo sentado perto de um alfoz, depois de os dois - (Será possível? Alô Michio, socorro!) - terem jantado a falar de mim em inteligente curiosidade - de mim, a sua (sua sua, não do António Sérgio) cicerone - enquanto deglutiam um peixe (bom, digo, óptimo) numa esplanada com cheiro de mim encantadora (dou encanto e mistério às coisas mais simples, sabe bem que sim: sou mais que o meu genoma, sabe, pois não sabe?). Está a sorrir de novo, aposto e gosto, e já estou ligeiramente corada, vida! Diz-me que na sua mente vai um revoltilho e que anda azoinado com saudades de mim e das curvas do meu vestido e dos meus olhos grandes bugalhados cravados em si? Gosto e gosto e gosto! Nervoseira a sua, inquietação a minha, céus!
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