Serão (também) assim os amores rizomados?
(Mensagem recebida)
Se, meu admirador desde há muitos anos, se esse tal de
filósofo (o Joseph Vogl, tradutor do Gilles Deleuze) tiver razão, que rizoma é labirinto, eu
diria que a vida é um rizoma, porque o que conta e marca a vida de uma pessoa
não tem princípio e não tem fim e tem atalhos e desvios (como o cérebro,
eureka). Pense comigo. Hoje, em fim de dia atarefado e já vestida (como quem
diz) com a minha túnica azul de punhos vincados, e sem que eu tenha procurado,
encontrei uma minha agenda antiga. Não me recordava dela porque a tinha
guardada no único móvel com chave que possuo (aquele grande, esculpido em cerdeira
antiga, com portas e gaveta), mas a minha curiosidade depressa me respondeu. No
final da agenda, entre cartões e apontamentos, está uma folha dobrada, rasgada
de uma revista, com um texto do José Eduardo Agualusa intitulado O Homem. Junto dessa folha
está uma outra, de uma revista, com uma notícia de um ano lectivo e uma
fotografia: a sua fotografia, meu caro pesquisador dos meus pensamentos. Não
sei se consegue imaginar o turbilhão de pensamentos que me assaltou, nem lhe
digo e nem lhe conto quanto eu mulher-rizoma me recordei do seu olhar azul, que me via toda
por dentro e eu a tremer como se estivesse com febre. Adiante. Tente encontrar-me (na imagem que lhe envio) linda e olhuda e deslumbrada e com as minhas mãos perfeitas a tecer linhas em movimento, atente na elegância dos meus pés apoiados nos dedos. Céus, vida, acudam, sou assim, sou demais, eu, sou mulher-rizoma, que se há-de fazer? Serão (também) assim os amores rizomados?
Comentários
Enviar um comentário