Ortega Y Gasset e a θεία μανία de Platão
Deambular, pausadamente, por dentro de um interessante e conhecido livro de Ortega y
Gasset (Estudos
sobre o Amor) é um exercício intelectual saudável. Trata-se de um livro (publicado a primeira vez, em 1939, na cidade de Buenos Aires) que contém uma série de artigos que o autor escreveu entre 1926 e 1927 e aos quais, mais tarde, acrescentou outros. Embora o tema do livro seja o amor, o conceito essencial que é desenvolvido é o conceito de vida, vida definida como "inextricável missão do ser humano de acolher em si próprio a responsabilidade da sua liberdade", seja, a vida por autonomásia é o que há por fazer: a vida não se pode viver sozinha... Escrevia eu, de forma metódica e racional, quando uma voz (radiosa e quente) - minha conhecida - se fez ouvir. Assim: "para Ortega, meu caro adorador de pausas comovidas, os seres humanos são (acima de tudo) um sistema de preferências e desdéns, no qual (sistema) existe um coração (ele sim, o coração, não duvide) é uma máquina de preferir e desdenhar, o coração é o verdadeiro suporte da personalidade. Eu, moita carrasco, fiz que não ouvi. seja; embrenhei-me na segunda parte do livro (A escolha amorosa), e lá se foi mais uma horita de tempo, bem empregue a ruminar capítulos: (1) Revolução do fundo latente; (2) Ao microscópio; (3) Amores sucessivos; (4) Os equívocos; (5) A influência quotidiana; (6) A selecção erótica... Mudo de estupefação, bem que senti um suave suspiro no ar, e ouvi distintamente com curiosidade de ouvir, a voz sedutora: "saiba, meu caro estonteado com a minha tonalidade de voz, saiba que rapinaram uma pintura do Gustave Moreau para a capa do livro que está a ler, e o nome da pintura é Leda (quanto eu gosto do cantar da Paulina!)". Passei-me! Eu a ouvir uma voz dentro de mim, digo, a ouvir uma voz (princesa minha) em tegumento de carícias, pode lá ser, mas respondi-lhe: "se sabe tudo e é tão guicha, diga lá então o que significa apaixonar-se, sou todo ouvidos"... Ui aquele risinho maroto que parecia beijar-me (conheço bem a sua linda e muito desejada dona de olhos grandes), vida, quase me estatelei quando a voz me disse com ar doutoral: "apaixonar-se acontece, meu caro admirador do ser que me dá voz, apaixonar-se acontece quando o objecto do nosso amor ganha, de repente, mais realidade que o resto das coisas, seja, a "theia mania" (mania divina) de Platão". Mas mais, disse em jeito de quem distribui sinceridade: "tenha sempre presente (e nunca por nunca se esqueça) que a "theia mania" é só (e apenas) o começo: pois, a pouco e pouco, o mundo vai perdendo importância e o ser amado substitui o mundo com vantagens evidentes"... Não! Ripostei apaixonado. Sim! Retorquiu a voz (melíflua e cheia de significados) num hã hã hã descontraído.
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