Não nos conseguem roubar os sonhos, pois não?

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(Mensagem recebida)
Bom dia, meu atarantado admirador de mim única e do meu saber invejado, ficou nas covas e não foi capaz de me dar a sua opinião sobre este tema. Adiante. Agora estou enroladinha no sofá a tentar aquecer os pés, tenho os pés frios, mas estou sorridente, com a curva de um joelho a desenhar uma sinuosidade de cisne e a ouvir o som de uma harpa. Abro aqui um parêntesis para suspirar, já está, suspiro meu que me aliviou! Saiba que já sonho com o regresso do sol e das temperaturas amenas. Eu sei que prefere o frio ao calor, calor para si só o meu, ui, verdade? Vá lá, sorria, estou a brincar. Eu sei, eu sei, quer saber o que penso sobre a robótica. Vamos lá então. Qual a primeira ideia que me veio à cabeça? Que a robótica ou pelo menos falar sobre robôs está a tornar-se em assunto. Antes não era assunto, nem sequer para os mais informados. Era assunto dos seus criadores, hoje já é discutido nas universidades e nos centros de ciência. Começa a ser notícia, já anda pela internet e por algumas revistas, em breve entrará pela televisão adentro e depois é que será o que for. A mim parece-me que causará algum receio nas pessoas comuns. Eu diria mesmo que ver robôs com a aparência de humanos causa medo. A mim causa repulsa. Porque é que uma máquina tem de se parecer com uma pessoa? Atente na imagem de um livro do Luis Moniz Pereira publicado em Março passado, vida! Julgarão os seus criadores que os tornará mais suportáveis, mais fiáveis aos olhos humanos? Serão uma projecção dos seus criadores? O estado actual da tecnologia talvez ainda não nos dê razões para alarmes excessivos, mas concordo que é a hora da Humanidade tomar decisões sobre o futuro das máquinas. Ou melhor, sobre o nosso futuro relacional com as máquinas. Por ora, as máquinas que incorporamos na nossa vida são práticas e úteis. Mas os excessos de controlo da nossa vida e da nossa privacidade, os efeitos perversos da internet e das redes sociais, já nos dão o móbil suficiente para pensar esse futuro. A entrevistada parece-me falsamente ingénua. Acho que não sabe nada acerca do que ai vem. Está deslumbrada e está, parece-me, desligada das realidades comuns. Como pensa a senhora fazer o controlo prévio da internet? Que tipo de regulação acredita ela que possa ser ainda possível implementar no estado actual das coisas? Neste mundo desregulado dominado pelo capitalismo selvagem a que assistimos? É irrealista. E ela sabe que é. É para tranquilizar o leitor e enganar o utilizador comum, para nos fazer acreditar que a ciência e a tecnologia são gloriosamente úteis, com vantagens que suplantam sempre os malefícios e que o seu desenvolvimento é ilimitado. É o discurso das elites que detém o conhecimento. É poder. O poder será (e de certa forma até já é) de quem dominar a técnica. Os seres humanos dominantes que podem tudo, homens-deuses. Há uma certa arrogância nas entrevistas como esta. Uma falsa modéstia nos investigadores. Acho até que mentem. A senhora mentiu quando disse acreditar que os robôs não nos tirarão os empregos. Eles já estão a fazê-lo. E a transição (de que ela fala) tornar-se-à permanente. É dos problemas mais sérios que a Humanidade terá de enfrentar. Imagina enormes e generalizadas massas humanas desocupadas e sem meios de subsistência? Em que actividades alternativas estava a senhora a pensar? Seremos assim tão criativos, como diz? Quem deixar de ter acesso à satisfação das necessidades mais básicas terá condições para alimentar tal optimismo e para ser criativo? Como lhe disse, máquinas que  aprendem, assustam. E se pensarmos que os humanos estão a perder habilidades, assusta ainda mais. Máquinas com processadores potentíssimos, mais rápidos que o cérebro humano, com autonomia, capazes de se movimentarem e executarem tarefas, algumas pesadas... (ora ai está algo que eu nunca serei capaz de fazer, maneirinha como sou). Não basta dizer: as máquinas são criação nossa e nunca mandarão em nós. Se não houver limites, meu caro admirador ciumento, se a ciência e a filosofia não derem as mãos, como é que a ética será o travão necessário à tal da robótica ou simbiótica ou lá o que é? E que tal inventarmos seres humanos melhores? Uhm, que tal? No episódio da teoria do Bing Bang (de hoje) os nerds andam fascinados a fazer impressões 3D de bonecos miniaturas de si próprios e a gastar milhares numa máquina, mas esquecendo-se do valor do dinheiro. Já agora, sabe que já se fazem armas com impressoras daquelas? Pois. Estou a ficar com sono, Santo Deus, mas também me apetece uma torrada. Não inventaram um robô que me torre o pãozinho e o traga aqui ao meu aninhado sofá branco? Não?! Que pena! Pense em mim, não nos conseguem roubar os sonhos, pois não?
Adenda
A considerar... Depois revisitar um texto importante; e, de seguida,  ouvir uma canção composta por inteligência artificial... E, mais, quando tiver (mais) tempo demore-se por aqui...
Adenda (nova mensagem)
Já ouviu falar, meu caro, em responsabilidade em ciência e tecnologia? Claro que sim, já. Convido-o então a demorar-se neste guia prático. Não sabe o que significa RRI? Não, vida minha, céus, até uma máquina sabe!

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