Dia de Consoada: à roda das virtudes do azeite

aceite oliva virgen
Na Consoada, em tempo de Natal, nunca antes se prescindiu do bacalhau, das batatas, das cenouras, das couves, do alho e do azeite de oliveira (ouro líquido, como quem com sabe, alguns lhe chamam), tudo essencial para um prato delicioso: a roupa velha no dia seguinte. Infelizmente, sinal dos tempos, até já a carne de porco, a de cabrito e a de borrego servem para a Consoada, valha-nos Deus Menino! Ah, mas o azeite merece destaque especial. O melhor azeite, o verdadeiro, é o sumo de azeitonas, sem aditivos e nem corantes, produzido (a frio) em lagares próprios e especializados. Adiante. Sobre as virtudes do azeite, o que para aí há de informação, é só ter um pouco de tempo e procurar. Prefiro guardar comigo o saber (sobre as virtudes do azeite) daqueles que, mesmo sendo analfabetos, são gente de saber genuíno, sabem de tudo: é da feitura do azeite, tanto como, da lavra, da sementeira, do regadio, da colheita, da poda, da pisa das uvas e até (pasme-se) da papelada dos subsídios. A mim e aposto que a muitos (e a muitos mais ainda), são eles que nos levam de longe a palma. Claro que sim, claro que também oiço com interesse o que dizem alguns (ditos) sábios sobre o universo e sobre os multiversos e sobre tudo e ainda sobre naves espaciais e laboratórios e inteligência artificial e outras coisas afins. Fico abismado, mas às vezes fico atoladado de dúvidas: será que o saber deles não é apenas filigrana de charadas para fazerem figura? E os que debitam teorias políticas e sociológicas literatas? A verdade seja dita, passo-me dos carretos quando lhes leio a prosa, que mais parece soprar névoas para esconder o vazio do que vai na cabeça dos tipos sociologados, xô, tipo-assim: "Associa também a caracterização sociocomportamental de grupos de diferente extracção económico-social às movimentações (de variável valor táctico) no campo literário português, que tinha tradicionalmente um espaço-tempo privilegiado para o confronto dos estilos epocais (hegemónicos ou anacronizados ou emergentes). Nesse sentido, o conhecimento das facções intergeracionais e dos maiores sistemas estilísticos-peridiológicos não deve alhear-se das indicações e valorações". Quando assim acontece (azedia, vade retro!), cá por estas bandas (sabedoria serrana única!), há quem resfolegue: estou com os azeites. Porquê dizer "estar com os azeites"? Sei eu lá bem, dizem-me (e eu acredito) que a expressão "estar com os azeites" já é do tempo da Maria Cachucha. Pior a emenda que o soneto, pensarão... "Estar com os azeites é do tempo da Maria Cachucha", arrisco eu, teria sido um bom início para um novo problema do excelente Borges... Que ninguém se esqueça que hoje é noite de Consoada, noite de bacalhau cozido com batatas, couves, cenouras, nabos, cherovias, alhos e couves: tudo bem regado com ouro líquido, seja, com sumo de azeitonas, sem aditivos e sem corantes. E, depois da Consoada (mais ou menos comprida, digo, cumprida), é o tempo do madeiro e das brasas vermelhas ao léu. Também é o tempo de sair de casa (ou ir ao terraço - de preferência com horizonte-água -), e há que olhar para cima, ver o céu estrelado, tantas estrelas, descobrir a estrela que nos guia dia sim dia sim, e cantarolar: "olhei para o céu estrelado, vi o Deus menino em palhas deitado, em palhas deitado, em palhas estendido, filho de uma rosa, de um cravo nascido"...
Quem foi que falou nas virtudes do azeite? Quem disse ouro líquido?
Adenda - mensagem recebida - (25/12/2016)
Oh, oh, meu caro admirador das minhas filhós de Natal e da minha mousse de chocolate, nem de propósito, passe os olhos por aqui... Adiante, ponto. Se tivesse visto o meu casaco novo (a minha tia, a tal de eu ser asadinha como ela, passou-se), vida, saberia quanto o Deus menino me fez prendada, digo, única...

Comentários

Mensagens populares