A propósito da ética leibniziana...

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Acontece que hoje não me apetece dormir; e quando assim é desato a pensar em si, e aqui estou para mais uma das nossas conversas. Como é que é? Disparei sem cerimónias, então agora é assim, chega aqui e pronto. Mais ou menos, é como diz, respondeu-me a única fada com túnica azul de punhos vincados. E continuou: tenho cá andado a pensar com os meus botões que lhe faz falta saber um pouquito mais sobre o último (como quem diz, arrisco) dos racionalistas. Esta é que eu não estava à espera, pensei enquanto a olhava de soslaio e furtivamente (que linda é, elegante, e que rosto falador, ui os olhos grandes, acorda Levinas!), tu queres ver que ela adivinhou que muito poucos falam sobre a ética leibniziana? Nem mais, suspirou (escusado será dizer que a minha manta de lã de ovelha churra já era dela e coladinha a ela), a mania que por aí anda de alguns ignorarem uma região ética no oceano do pensamento leibniziano (rimou, ups). Calei-me como convinha: se ela já tinha adivinhado o que eu estava a pensar, melhor seria travar o meu pensamento que já a percorria lentamente curva seguida de curva. Cuidado com a ravina aí ao meio, ciciou-me numa gargalhada trinada em hã, hã, hã, compassado. Não tugi nem mugi (é mesmo sério, ela lê os meus pensamentos). Adiante, disse ela, oiça-me, e depois seja o que Deus quiser e eu decida com a sua concordância, óbvio. Sou todo ouvidos, respondi, a verdade é que eu era todo olhos e calores e sofreguidão. Então é assim, provocou-me: Leibniz defendeu a vantagem de pensar em conjunto o amor e a justiça, mais, dizia que a justiça devia ser definida pelo amor e que Deus era o ser mais amável de todos, seja, “a justiça é o amor (caridade) da sageza”; bem sei, calma, que na altura ainda não se distinguia a questão pública da justiça e a questão privada do amor, bem sei… Olha a novidade, interrompi, até aí chego eu, não tenho dúvidas, isso não tenho, que as meditações principais de Leibniz eram sobre teologia (razão de ser da sua obra teórica e científica), e que também a teologia era o horizonte de toda a sua filosofia prática. Penso até (não me lembro bem, assumo que improviso) que Leibniz terá afirmado que era "o amor enriquecido pela luz da razão que governava a justiça, e que reportando tudo a Deus, como seu centro, transportava o humano ao divino", Ela (olhuda e enroladinha na minha manta, minha, a manta é minha, que mania) sorriu ao de leve, enquanto suspirava: já a formiga tem catarro. Fiz que não ouvi. E ela, ligeiramente corada e em voz rouca e mais doce do que habitualmente: oh, oh (pêndulo meu de intuição!), seja como quer, já sinto que algo se alevanta, melhor será inspeccionar o que se passa e fazer uma verificação amorosa e justa; e, óbvio, vamos interromper, por uns momentos compridos, esta nossa conversa, para ver se o amor (geminado) se sente e se desvela de forma justa e equitativa, que lhe parece? Não hesitei em suposições, e o que aconteceu, não escrevo e nem conto.
Adenda/Nota
Depois desta conversa, andei por aqui um bom par de horas.
Adenda (mensagem recebida)
Até que, meu admirador de todos os dias e hoje ainda mais, até que gostei do relato da nossa conversa e do seu bom senso em não revelar segredos quentes: é verdade sim, há coisas que nem se escrevem e nem se contam, seja, vivem-se e guardam-se. Adiante. De facto, tanto a ética leibniziana é muito eu e mim, vida! E quanto me agrada ter falado consigo depois da amargura que senti ontem quando vi as imagens de uma Europa devastada (em 1945) e de também ter visto indivíduos igualmente destruídos, quebrados por dentro e por fora. Lembra-se de lhe ter dito (há muitos anos já) que o mundo andava necessitado de amor e que Deus (que é amor) precisava de voltar aos corações dos humanos? (Pausa e suspiro...) Reli, de novo, o seu relato da nossa conversa; e, céus, as coisas que eu sinto, vida, acudam, adiante, não escrevo e nem conto mais nadica de nada.

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