É melhor ir à fonte para conhecer o sabor da água

É melhor (a maior parte das vezes deverá ser mesmo assim), nada melhor que ir à fonte para bem conhecer o sabor da água. Vem isto a propósito da leitura que (pausadamente) venho fazendo de “A origem das espécies por meio da selecção natural ou a preservação das variedades favorecidas pela luta pela vida” de Charles Darwin. E este ir à fonte, imagine-se só, tem directamente a ver com Thomas Henry Huxley, que foi um dos mais acérrimos defensores de Darwin. Propôs ele (trinta e quatro anos após a publicação da “A origem das espécies”), numa conferência intitulada “Evolução e Ética”, uma visão radical “da forma como a humanidade deveria aplicar o seu conhecimento das leis da natureza à elaboração dos seus valores morais. Assim, dizia ele, “temos de compreender, de uma vez por todas, que o progresso ético de uma sociedade não depende da sua capacidade de imitar leis cósmicas, e ainda menos depende da sua capacidade de as evitar, mas da sua capacidade de as combater”. Não tanto, arrisco eu, de as combater mas de as questionar e de as compreender; dito de outra maneira: importante será mergulhar no tumultuoso relato das origens da aventura humana para tentar perceber até que ponto os seres humanos são feitos de ausência, da presença da ausência…
(Mensagem recebida)
Este seu arrazoado, meu caro admirador das curvas suaves e perfeitas do meu vestido de Outono, trouxe-me ao pensamento uma carinhosa expressão “o futuro da memória”, que se traduz: a experiência que a vida faz de si mesma; de si mesma enquanto vive, estranha, obscura e maravilhosa experiência… Até lhe digo mais, estou com vontade de reler o livro A escritura e a vida” do Jorge Semprún. Se eu sei que era um estalinista de mão dura e se conheço a polémica instalada à volta da sua presença (e funções) no campo de concentração? Óbvio, claro que sei, claro que conheço. Fez bem, meu admirador, em me provocar, fez bem, agora me recordo que foi ele (dizem) que perseguiu ideologicamente a Carmen Laforet, autora da novela "Nada" (1944) que relatava a pobreza em que na Espanha se vivia no pós-guerra...
Adenda
Adiante, adiante meu admirador de todos os dias faça sol ou faça chuva, já que estamos em tempo de Prémio Nobel da Literatura, deixe para um outro dia (quiçá para as calendas gregas) a (re) leitura dos livros do Jorge e da Carmen... E se trocássemos "Dylan" por "Cohen"? Que tal? Sério? Mesmo? Isso mesmo: também concordo que nada melhor que ir à fonte para bem conhecer o sabor da água, vida...

Comentários

Mensagens populares