No tempo do minério...

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É como lhe conto, ontem igual a hoje, disse-me o Zé Dias, é mesmo assim, em tempo de abundância os portugueses avariam da cachimónia, ele foi o ouro de Brasil, o dinheiro dos emigrantes, os euros dos fundos comunitários, primeiro é só regabofe e depois é que são elas, fominha e muita fajeca dela: aguenta-te com as sobras ou diz que a culpa é do tempo. Tem razão, retorqui, tem razão, mas isso é o que todos dizem. Essa agora, interrompeu-me, sei bem o que digo, é a vida que nos ensina, aí tem um exemplo que não deixa margem para dúvidas: no tempo do minério (volfrâmio) o Manel Côca (vossemecê não se alembra dele, morava em frente ao Ti Zé Saraiva) fazia tilintar as moedas pequenas (os tostões) nos bolsos: “para que é que esta ferralha serve”, e atirava as moedas para o telhado da casa. Inda te hão-de fazer falta, disse-lhe o Ti Zé Saraiva. A roda da fortuna mudou, sempre muda, muda sempre. E, num dia em que o Manel (Deus o lá tenha em descanso que não era má rês) andava a arranjar o telhado: então Manel, atirou-lhe, malandro, o Ti Zé Saraiva, isso é que é trabalhar! Putas das telhas, desculpou-se o Manel, na minha sala é só pingueiras…

(Mensagem recebida)
Curioso, curioso, meu caro curioso, é curioso ter invocado Aquilino Ribeiro, amanhã é o aniversário do seu nascimento (1885), diz o Borda d´Água. Adiante. Por falar em telhado e recordações (cheira-me que esse Zé Dias há-de ser cá uma peça!), atente e leia com olhos de ouvir: “Que coração, no entanto, pode repousar/com o restolhar de asas no telhado?/A dúvida agita/os cortinados/e nos sítios mais íntimos da vida/acorda o passado”. (Manuel de Pina).

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