Passear para apanhar ar
(Mensagem
recebida)
Li
e reli, meu caro, o seu texto de ontem…
Tropecei
numa gargalhada quando imaginei que (durante o seu passeio) tinha guardado a rã
dentro do bolso. Adiante que o riso me faz cócegas: pensar numa rã bonita com
calças de ganga e ténis, estampa-me o riso no rosto, céus, vida, acudam. Vamos
lá, calma. Tanto quanto pude apurar, existem rãs pequenas (como eu),
irrequietas (tenho dias…) chamadas anãs, dizem que vivem em África (será?!).
Adora, digo, agora a sério: aquela frase do só existe o que se vê, faz pensar;
afinal o que é a realidade? Sei, sei, meu caro, sei que não sabe da existência
de Teofrasto, paciência, nada que me surpreenda, mas creio que lhe seja útil pensar
um pouco no que ele escreveu (sobre o pensamento de Diógenes) a propósito da complexa função cognitiva. Ora leia:
“Diógenes
atribui o pensamento e os sentidos, como também a vida, ao ar... Parecia fazer isso pela acção de semelhantes (pois ele diz que não haveria nem
agente nem paciente, a não ser que todas as coisas viessem de uma). O sentido
do olfacto é produzido pelo ar à volta do cérebro. A audição produz-se sempre
que o ar entra dento dos ouvidos, ao ser movimentado pelo ar exterior se
espalha em direcção ao cérebro. A visão ocorre quando as coisas se reflectem na
pupila, e ela, misturando-se com o ar interior produz uma sensação (…). O
gosto chega à língua por intermédio do que é raro e suave. Do tacto ele não deu
definição, nem da sua natureza e nem dos seus objectos. O olfacto é mais agudo
para aqueles que têm menos ar na cabeça, pois mistura-se mais rapidamente; e mais se é inspirado através de um canal mais comprido e mais estreito, pois
deste modo avalia-se mais depressa: é por isso que algumas criaturas vivas têm
mais olfacto que os humanos… Que o ar interior percebe, sendo uma pequena
porção do deus, é indicado pelo facto de que muitas vezes, quando temos o
espírito noutras coisas, nem vemos nem ouvimos.” (...)
Passeia, meu caro, para apanhar ar de mim? Sou o seu ar interior, a sua deusa?
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