Textinho de bom augúrio (à Proust)


Este, exactamente este e com esta vista deslumbrante, este é um lugar único que tem memórias sempre vivas. Esta hora, digo, nesta hora está a acontecer o voo livre da alma, da minha alma, o voo livre para o indizível (sim alma, disse alma porque sei que as incertezas da filosofia são bem mais ricas que as certezas das lógicas formais). Longe dos livros, acabado o dia, terminada a leitura de duas reticentes linhas, temperadas com lembrança e com maroteira e com saudade, a minha alma emergiu serena, totalmente silenciosa, grácil e contemplativa na sua via graça, digo, via graça: a beleza requintada, a noite calma, as luzes farol, um poema cuidado, o abraço envolvente de uma estrela e o terno e afirmativo eco de uma meia noite límpida. Pareceu-me ter ouvido (conheço o som e o tom da voz, tenho a certeza): tudo isso eu sou e sinto.

Adenda
Quem foi que disse "síndrome de Proust"?
Talvez seja uma boa ideia (quem sabe) revisitar Gaston Bachelard...

Comentários

Mensagens populares