Hoje sei que nunca nos conhecemos a nós próprios

Tenho lido, digo, tenho relido algumas páginas da via graça: com saudades de futuro a tiracolo  sempre à mão de semear. Agora escrevo de corrida. Escrever é uma aprendizagem, e aprender não tem fim. Por alguma razão (digo eu) os alquimistas se exprimem em linguagem cifrada; há quem diga (ui os - e as, que isto do género tem que se lhe diga - psicanalistas) aparentada à dos sonhos: a teia que com o tempo neles se desenvolve permite adivinhar um desenho, o desenho da própria vida rabiscado pelo amor sereno, o melhor de todos os sentimentos (expressão do humano no divino e do divino no humano), que não é um deus mas sim um daimon como os antigos o entendiam, um sentimento a caminho. O amor, indefinível (dizem que nasceu no tempo das castanhas, Fevereiro é mês de castanhas?), o amor vem do lado de lá do sono e faz a ponte entre o ser e o nada, e, entre os dois, preenche o intervalo para reunir as partes do grande todo; é no amor que moram o encantamento da magia, a arte da adivinhação e sim, mesmo até, a iniciação aos supremos mistérios: por meio desse daimon os deuses falam com os humanos (daimon, fada, claro, ela, linda e sábia e única). Céus, vida, só agora dei por isso, é a escrita que nos escreve e não o contrário, a escrita toma conta do pensamento, se alguma ideia existia, se era ideia (se era prova, provação ou provocação) deixou de o ser, passou a ritmo, as minhas mãos teclam sozinhas e até, quando param, são uma forma de ir andando por dentro da via graça: amar é o melhor de todos os sentimentos com o futuro próximo sempre a espreitar horizontes-água...

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