Ainda há quem jure que escrever não custa


(Mensagem recebida)
Acontece-me, meu caro, acontece-me, meu caro admirador de mim, digo, de mim e da minha beleza e da minha inteligência (únicas, diga-se de passagem), acontece-me encontrar temas controversos e interessantes (este, por exemplo, caiu-me que nem sopa no mel). Vai daí, olhos grandes em riste e curiosidade aguçada, vou-me ao texto (que nem gata a bofe) e leio tudo, tudinho, tento perceber (o mesmo não posso dizer de si, adiante). Um dia destes, com tempo e com vagar, dou-lhe conta do que apurei: a história das más ideias tem que se lhe diga. Mas (verdade, verdadinha) o tema que mais me entusiasma é a origem e a diversidade e o porquê e o como das formas na natureza. Se a origem e a diversidade e o porquê e o como das formas da natureza também se referem às minhas formas perfeitas? É o que me pergunta? Então não, olha a novidade, claro que sim! Por quem é, Santo Deus, Jesus, Maria, José!
Notinha de rodapé
Sempre lhe digo e conto, meu caro, que (quanto ao como e ao porquê das formas) já tenho o título do meu escrito futuro: "Da metafísica às bolhas de sabão". Podia fazer sair o texto de imediato, não fosse ainda a necessidade de reboco e ainda de algum betume a tapar parágrafos. Céus, a primeira frase ainda não serve, por mais que me esforce não serve. Claro que sim, meu caro admirador, o círculo e a esfera foram sempre consideradas as formas geométricas perfeitas, desde os gregos e até Kepler. Adiante. Dizia-lhe eu que a primeira frase não serve, não convence, adiante. Surpreenda-se: então não é que chego a ver nas bolhas de sabão asas de insectos, digo, vejo leves danças de abelhas e até favos de mel? Sou assim, de nascença e por aí adiante: com o andar dos anos mais refinada, que se há-de fazer! Ainda há quem jure que escrever não custa.

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