O passeio como um passear-se

Quando um verbo ladino traduz uma causa imanente... Vem isto a propósito da leitura de um texto de Espinoza em que ele pretende explicar o significado de um verbo reflexivo activo como sendo a expressão de uma causa imanente, seja, uma acção em que agente e paciente são o mesmo. Utiliza Espinoza (com esse fim) a expressão "se visitantem constituere" (constituir-se visitante); mas não se conforma, a expressão não tem força suficiente. E, surpresa, recorre a um verbo ladino (sim ladino, ladino era a língua falada dos judeus sefarditas), recorre ao verbo "pasearse" que significa passear ou dar um passeio. Acertou em cheio. Como equivalente de uma causa imanente o verbo ladino diz tudo: apresenta (mostra) uma acção em que agente e paciente se encontram no limiar de absoluta indistinção, o passeio como um passear-se. No "pasearse" quem passeia o quê?!!! No "pasearse" perdem-se as categorias gramaticais de activo, de passivo, de sujeito, de objecto, até as categorias de transitivo e de intransitivo (e meio e fim) desaparecem. Não foi Epicteto que disse que "os modos de ser fazem a ginástica"?

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