No início de quase tudo há sempre quase nada
Voltas e voltas e
mais voltas, a gente dá voltas e mais voltas, e o mundo sempre continua encantado.
Apropriamo-nos das palavras através da sua tonalidade afectiva e textura; dizem até que o sabor das palavras ou das frases (nas suas melodias específicas) influencia e modula o corpo...
Vem isto a
propósito de uma mensagem que recebi:
- “O Sol, meu caro admirador de mim, o Sol (que
a tudo e a todos dá vida) e a bolha de champanhe (que se eleva e diverte num
copo de cristal) são dois objectos que diferem em quase tudo; diferem: na
dimensão, na composição, na estrutura, na temperatura, no meio exterior, até na
transcendência. Apenas têm uma coisa em comum: a forma”.
Surpreendido com a
mensagem, pensei comigo que a forma de um objecto pode resultar directamente da
pressão do meio exterior, seja, em condições de perfeita isotropia a forma mais
provável é a esfera, é uma necessidade. Porém, quando a forma necessária é a
forma de um ser vivo, então essa forma necessária é susceptível de ser
reforçada ou orientada pela selecção natural, assim: tratando-se de nadar ou
voar as variantes da esfera podem revelar-se interessantes. Até aqui tudo
fácil, desabafei comigo, mas quais são as formas vivas mais visíveis?
Ainda nem tinha acabado de perguntar, e já a resposta se fazia anunciar em letras redondinhas refinadas:
- “Tendo por base o círculo, são o hexágono, o
cone, a onda, a espiral, a hélice, todas derivam da circunferência, uma curva
muito provável se não houver qualquer privilégio no espaço circundante: todas
elas pagam tributo à simetria circular”.
Pois sim,
arrisquei, responda, se for capaz, a uma minha dúvida, seja: falando do espaço exterior,
sim, parece ser assim, mas quais as formas que permitem aceder (em forma íntima)
aos espaços interiores da vida (sistemas circulatório, nervoso e respiratório,
raízes, por exemplo), aceder a todos os pontos do espaço?
Não acredito, não
pode ser, acabo de receber uma mensagem-resposta automática:
- “Os fractais, meu caro admirador; e registe: simetria
circular (ou não), no início de quase tudo há sempre quase nada; sei do que
falo, sou formas e raízes, sou única, sou formas combinadas e sou esponja: de vida, de beleza e de saber; sou única e sou silenciosa conversação do corpo com as coisas.
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