A propósito de ciúmes fabricados


(Mensagem recebida)
Tenho andado, meu caro, com uma pulga atrás da orelha, que é como quem diz: como é que os seres humanos fabricam os sentimentos? Esta coisa de fabricar sentimentos é uma actividade corrente, comum (e vital mesmo), penso eu de que... Vai daí, imagine só, fui ouvir de Homero o que ele pensava sobre o surgimento da cólera de Aquiles, questionei Séneca acerca da fúria em geral, que discussão de criar bicho eu tive com Espinoza (então não é que ele pretende explicar os afectos por via de um método a que chama geométrico?), falei uns minutitos com Freud (pátáti, pátátá, libido práqui, libido prácolá), e, ah sim, perdi-me nas descrições minuciosas de Proust... Adiante. Sei que, meu adorado admirador ciumento, sei que não pergunta, mas é isso, quero saber mais sobre as variações do ciúme. Olhe só o que encontrei: um quadro de Haynes King, datado de 1874, que me permite rabiscar duas notas soltas. Vamos lá: (i) o homem conta uma história a uma mulher que está alegre e outra uma mulher segue os sentimentos dos dois pensativa. Dizem alguns que "o artista tornou visível, por assim dizer, através do triângulo do ciúme, um conjunto de sentimentos humanos, sugerindo uma possível origem para esses sentimentos: a alegria é uma função directa do interesse erótico que suscitamos nos outros e a tristeza é uma função inversa do mesmo interesse"; (ii) prefiro dizer que os sentimentos nascem da avaliação das situações, seja, os seres humanos têm a capacidade de transformar em sentimentos a avaliação das situações face aos seus semelhantes: e aí nasce a alegria ou a tristeza. Se rejeito a primeira nota? Um tanto não, mas bem que lhe pergunte: e se imaginarmos o quadro com uma mulher e dois homens? Os sentimentos fabricados seriam os mesmos? Com a mesma carga erótica? Pergunta-me se eu sei? Pois não sei ainda, meu caro estonteado com a minha beleza única e admirador único da minha gargalhada hã, hã, hã, não sei ainda mas vou estudar e hei-de escrever sobre ciúmes fabricados, prometo.
Notinha de rodapé
Percebi, já percebi, meu caro, que está apreensivo com esta minha mensagem... Deixe-se disso, páre com a sua ciumeira e divirta-se. Céus, ria-se, veja só como um maduro (atrasado no tempo e adiantado na idade) não consegue pôr o aspirador a trabalhar, Santo Deus, gastou 13 (treze) segundos e nada! Riu, sorriu pelo menos? Óptimo, gosto e gosto e gosto.

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