Micropaisagem: fugaz e perene
Charlotte Landreau, Martha Graham Dance Company
Qualquer um dos versos de Carlos Oliveira pode iluminar esta imagem. Escolha-se um deles, ao acaso, na "Micropaisagem".
Este:
- "A lenta / contracção / das pétalas, / a tensa construção / de algo / mais denso".
Ou este:
- "O momento / em que a dilatação / se ultrapassa / a si mesma / e transgride / o limite / da estabilidade, / o equilíbrio".
Ou ainda este:
- "nitidez / vitrificada tão intensamente / pela memória".
Adenda
(página rasgada de um bloco de notas)
Bonita, que bonita é esta imagem de hoje, meu caro admirador de mim, admirador de mim, de mim única, óbvio. A imagem (penso eu de que) sugere uma rosa: a rosa, a flor mística. Oh pá,
mas ter escolhido um poema de um neo-realista, céus, deve ter relação com a
procura de frieza e rigor, de depuração. No entanto, aquela imagem transmite tudo menos
frieza (apesar do branco-gelo do vestido): antes transmite beleza, agilidade,
fragilidade também. Não foi o Carlos de Oliveira (foi, pois não foi?) que escreveu o “Aprendiz de
feiticeiro”? Meu caro estonteado com os meus escritos, vá por mim: por minha causa (por força da fada que eu
sou, digo) está a transformar-se num aprendiz de feiticeiro, num mago da
criação poética: em proximidade com a experiência mística da vida, do destino,
do amor, do amor de mim. Vamos ao que interessa, que os meus olhos grandes já iluminam o caminho, que lindos e bugalhados me saíram! Vamos lá. As legendas da imagem, escolhidas por si,
antecipam um momento, o futuro que se antevê rebuscado para o presente
expectante, antecipam a tensão das pétalas antes de uma gota de orvalho cair e tocar
nelas, para depois desabrocharem. Acudam: "é um instante / muito belo / é um
trémulo / fulgor da vida".
Comentários
Enviar um comentário