Há, há ainda um outro (primordial) tempo dos sonhos


Há, há ainda um outro (primordial) tempo dos sonhos. Há um outro tempo (tenho a certeza) em que os sonhos são a perpétua emergência do mundo - num processo cosmológico sempre em curso - : "a partir de um estado incipiente e indeterminado para uma realidade plena, desperta, da invisibilidade para a visibilidade". Descobri (inventei) que esse primordial tempo dos sonhos não está inteiramente alhures e senti que não está isolado do presente perceptível, quando ouvi falar desta árvore, Matusalém... Lancei um breve olhar para uma imagem de uma outra árvore sua parente, desse primordial tempo dos sonhos, e pedi-lhe (em jeito canhestro, reconheço) que me falasse de si e da sua própria vida. Disse-me: "olha bem para mim, faço parte da pista dos sonhos, sou um pau de escavar aqui deixado por uma mulher gigante que andava à procura de formigas de mel...". Sem articular patavina de som ou gesto, fiquei a saborear uma outra sua promessa, forjada numa nova ligação entre ver e ouvir: "um dia destes, aparece sempre que te apetecer, hei-de, prometo, contar-te estórias dos rios, dos ventos, do clima, da voz dos rouxinóis e das traquinices das carriças e até dos estalidos feitos pelo gelo novo nos lagos: esses estalidos, carregados de significados, são uma espécie de fala da terra...".

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