A talhe de foice: ἡ Σοῦδα (a Suda) e Hipátia
Carta recebida
Como eu lhe dizia, meu caro, as cartas de Sinésio de Cirene, são um portento de sabedoria. Li (reli, digo) a carta 15, a carta que ele escreveu a Hipátia; e, verdade verdadinha, não sei que lhe diga ou que lhe conte, ainda nem estou em mim, sensações minhas, vida, Michio, deuses do Olimpo! Leia comigo, pausadamente, como convém: "A ti, querida senhora, te saúdo carinhosamente e, por meio de ti, a meus queridíssimos companheiros. Faz tempo que vos alertei para esta situação, a de que eu não mereça que me escrevais umas letras, mas agora sei que todos vós deixaram de olhar para mim não porque eu tivesse cometido alguma falta mas sim por ter sofrido tantos infortúnios quantos é capaz de sofrer um homem (...). Mas, o que agora acontece, o facto de não receber notícias vossas, é também um dos pesares que me atanazam. Perdi... e perdi sobretudo, a tua alma diviníssima, aquilo que eu sempre esperei que se mantivesse firme para eu superar os azares da fortuna e os embates do destino...". Cá para mim, o Sinésio (ui, ui, ui Sinésio Sinhesinho, uhm, adiante) andava perdidinho de amores pela Hipátia, poderia lá ser de outra forma, as coisas (são as coisas que nos têm e não somos nós que temos as coisas, é o ser que fala dentro de nós e não somos nós que falamos do ser - bela tirada filosófica, todos dos dias me supero, sempre eu, só eu, vida!) as coisas, dizia, as coisas que eu sinto quando absorvo e imagino o espadanar daqueles amores (foi o Einstein que disse que a imaginação é muito superior ao conhecimento, mas isto nem ele imaginaria, aposto). Se a Hipátia era um raio de luz na vida dele? Óbvio, tanto quanto eu sou na sua vida (há linguagem sem palavras, pois não há?). Se eu sabia que o Sinésio de Cirene foi o melhor aluno da Hipátia? Claro, então não, claro que sabia, sei... A talhe de foice, fui reler uma entrada na Suda sobre a Hipátia; até que não está mal, não está não senhor. Como, como, como diz? Não sabe, não sabe o que seja a Suda? E não conhece a obra sinesiana? Olha a novidade, que admiração, Santo Deus, quanto eu passo consigo!
Comentários
Enviar um comentário