"Escola a mais, pais a menos"...


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"Escola a mais, pais a menos" é um artigo de opinião que pretende ser muito objectivo e muito claro. Porém, algumas imprecisões devem ser esclarecidas. Assim. A primeira, é muito fácil criticar o conceito "escola a tempo inteiro" se ele for entendido, na sua aplicação prática, como uma medida de "frequência obrigatória da escola a tempo inteiro": na página 110 de "As Grandes Opções do Plano para 2016-2019" é apenas uma das medidas de combate ao insucesso escolar na raiz; e, como há muito se sabe, na medida de "escola a tempo inteiro" há actividades de frequência obrigatória e actividades de frequência facultativa... A segunda, a leitura do que está escrito - na página 20 das referidas em "As Grandes Opções do Plano"- induz em erro (é verdade) porque o que está escrito é muito confuso. Leia-se: (...) "Por outro lado, merece destaque que Portugal tem já uma cobertura do ensino pré-escolar elevada (ligeiramente acima dos valores da média europeia e da OCDE). Em particular, para crianças com cinco anos a taxa de escolarização atingiu, em 2012/13, cerca de 97%. Se as taxas verificadas na faixa etária dos três aos cinco são elevadas, o mesmo não se pode dizer da escolarização efetiva antes dos três anos. Nesta faixa etária os valores para os países europeus são bastante díspares. Portugal tem uma taxa de escolarização de 45,9% que fica claramente aquém dos 65,7% da Dinamarca, mas que, por exemplo, está francamente acima dos 27,7% da Finlândia. Em 2011, Portugal estava mesmo na cauda da OCDE no que diz respeito a gastos públicos com educação precoce. O total de gastos em educação antes dos cinco anos aproximava-se dos 0,4% do PIB, valor comparável com países como Estónia, Chipre ou Eslováquia. Se na faixa etária entre os três e os cinco os valores se aproximavam da média da OCDE (0,4% contra 0,5%), no escalão dos mais novos com valores próximos de zero, Portugal estava claramente abaixo da média. Assim, globalmente, Portugal está muito longe destes países no que diz respeito aos gastos públicos em educação na primeira infância."(...). Obviamente que quem escreveu esta parte da referida página 20, foi infeliz na escrita ou é ignorante: confundir educação da primeira infância (0 aos 5 anos) com escolarização efectiva é um tremendo disparate; às tantas, ouviu falar nesta equação e não entendeu nada, ou (e também) entende mal a língua inglesa; sugere-se que leia: perceberá o que está em causa.
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Por causa daquelas imprecisões aquele artigo de opinião tem menos valor? Claro que não; tem muito valor e é muito, muito oportuno. Seja, levanta muitas e diversas questões: cada uma delas merece um outro artigo com o mesmo número de palavras...
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Na parte final do artigo, no que se refere à "generalização da escola a tempo inteiro" e depois de se referir a falta de recursos humanos qualificados, diz-se textualmente: “… a tipologia dominante na organização dos espaços das escolas, que é a sala de aula, inviabilizaria a generalização proposta. Faltam ginásios, recintos desportivos de ar livre e espaços para actividades expressivas (teatro, música, artes plásticas, etc.), pelo que não nos iludamos: a persistir no erro, duplicaremos apenas, sem sucesso, actividades rígidas, de cariz escolar."... Muito bem observado. Porém, nada obsta a que muitas das actividades facultativas (nas escolas) possam ser desenvolvidas em espaços existentes na comunidade: o que para aí não falta são ginásios e piscinas e campos de jogos e bibliotecas e auditórios e teatros e sociedades recreativas e pavilhões multiusos e museus e galerias e fluviários e planetários e casas de música e jardins e rios e mar e praias e serras e montes e vales e espaços de culto e de rituais e, e, e... Pergunta: não seria de (também) pôr ao serviço da educação (escolaridade) os espaços/recursos educativos, por vezes tão pouco utilizados? Fazer o óbvio custa, mas vale a pena: estimula a criatividade, promove o sentido de comunidade, aumenta o capital social, optimiza redes sociais e é mais económico. Talvez não seja mal pensado (até seja avisado, quiçá) revisitar o conceito (e conhecer boas práticas que dele decorrem) de "cidade educadora"...
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Não fica bem torcer a realidade: tem toda a razão o Professor Santana Castilho. Talvez (quem sabe!) aqui se encontrem algumas respostas a algumas perguntas possíveis...
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Nem de propósito: eis um estudo que vale o que vale, mas que serve para justificar algumas medidas políticas, para isso serve... Pergunte-se de passagem: se já foi feito um estudo em que uma das variáveis foi a habilitação escolar do pai, se agora foi feito este outro estudo em que uma das variáveis é  a habilitação escolar da mãe (a talhe de foice: poderá haver tantas mães com habilitação escolar desconhecida?), será feito ainda um outro estudo em que uma das variáveis será a habilitação escolar dos pais? ( - pai, mãe, pais - é assim que se deve pensar e agir?!!!). Por agora, melhor será ler esta notícia: parece ter um título encomendado, pois não parece? Adiante que se faz tarde... 

Adenda
Há uma tragédia que continua na ordem do dia...

Nova adenda
Ligeiramente a propósito: caridade?!!! Mas a segurança social multa por excesso de caridade?!!! Não será melhor divulgar todo o processo que deu origem à multa e, dessa forma, pôr tudo a limpo? Haja coragem... Alguém sabe por onde anda o Provedor de Justiça?

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