Pensamento domingueiro

Mais dia menos dia, penso, hei-de escrever uma estória, digo, uma história de amor. De que tipo? Do tipo daquelas histórias em que ela e ele se descobrem de supetão (e com paixão); e em que, depois, lentamente e aos ziguezagues, vão descobrindo, digo, vão cobrindo a sua paixão. Será uma história com obstáculos desmesurados e fintas inúteis (até traições estúpidas) e água salgada e noites quentes e olhos grandes à proa de sorrisos e beijos com abraços e loas à vida e dias que acabam e dias que se reconciliam. Para o fim inventarei um grande momento, daqueles de "alto aí que o mundo acaba, calma, sentes-te bem?". Mas não, não, não mesmo, tenho a certeza. Sei que não vou, sei que não vou escrever essa história de amor, seria uma história com demasiadas aventuras e com enredos complicados. A verdade é que nunca, diga-se, fui partidário de auto retratos. Dizem, não recordo agora quem, que raramente um auto retrato calha certo, nem fotografado e nem escrito. Garantem, e eu acredito, que um auto retrato sai quase sempre irreconhecível. E cá para as minhas bandas, aposto, sairia irreconhecível: sinto por dentro uma força que nunca me deixaria revelar inteiro. Assim sendo, melhor será não escrever essa história de amor. Insultarei os deuses? Claro que não, nem tal me passa pela cabeça. Manterei pela vida fora a ilusão de que albergo um mistério, isso sim. Albergo um mistério, excelente mote para escrever uma história de amor, às tantas ainda mudo de ideias, vi-ver ou escre-ver uma história de amor é duas vezes ver. Tu queres ver que ainda a viver e já comecei a escrever essa-uma-única-messiânica história de amor? Será? Albergo um mistério e não tinha dado por isso.

Adenda
Esta forma de olhar para uma determinada realidade social, merece uma atenção particular e um diálogo alargado. Por volta do minuto oito, afirma-se: "há uma ordem no mundo e ela é baseada em energias entre o masculino e o feminino". E será que tudo isso tem a ver com as verdadeiras histórias de amor? Claro que sim, óbvio, tem, muito, mesmo... Iben Thranholm, um nome a reter: tem a razão, o bom senso e o sentido do óbvio do lado dela. Ponto.

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