Hezar-afsana ou a talentosa Scheherezade


(Mensagem recebida)
Em dia de eleições, meu caro, e com vontade que o resultado seja uma boa nova (como quem diz: que ganhe o Sampaio da Nóvoa; ups, precipitei-me...) dei por mim a revisitar "O Narrador" de Walter Benjamin. Com um pássaro a cantar (seria a ralhar?) no meu terraço de horizonte água, lá fui, palavra ante palavra, vírgula após vírgula, parágrafo-intervalo-parágrafo, até ao fragmento 13 (13 é o meu número da sorte, sabe, pois não sabe?). Nem lhe digo e nem lhe conto! A Mnemosyne e a Scheherezade no fragmento 13! Não está, meu caro, a perceber patavina do que eu lhe tento dizer? Olha a novidade! Às tantas também nunca ninguém ainda lhe disse que "Mil e uma noites" é o título de um livro que é tradução de um livro persa: "Hezar-afsana". Se eu fui alguma delas? Se já fui Mnemosyne ou Scheherezade? Se ainda continuo a ser uma ou outra? Então não! Homessa! Sou Uma e Outra e Eu! 

Adenda
Com a sua curiosidade a tiracolo, ainda lhe digo, meu caro, que deve ler: "Escritos sobre mito e linguagem". Aposto singelo contra dobrado que melhor entenderá o que eu penso e digo... Olhe só como terminam esses escritos de Walter Benjamin, assim:
"Resta assim, depois de tais considerações, um conceito mais depurado de linguagem, por imperfeito que ele possa ser. A linguagem de um ser é o meio em que sua essência espiritual se comunica. O fluxo ininterrupto dessa comunicação percorre toda a natureza, do mais baixo ser existente ao homem e do homem a Deus. O homem comunica-se a Deus através do nome que dá à natureza e a seus semelhantes (no nome próprio), e ele dá nome à natureza segundo a comunicação que dela recebe, pois também a natureza é atravessada por uma língua muda e sem nome, resíduo da palavra criadora de Deus, que se conservou no homem como nome que conhece e paira - acima dele - como veredicto judicante. A linguagem da natureza pode ser comparada a uma senha secreta, que cada sentinela passa à próxima em sua própria língua, mas o conteúdo da senha é a língua da sentinela mesma. Toda linguagem superior é tradução de uma linguagem inferior, até que se desdobre, em sua última clareza, a palavra de Deus, que é a unidade desse movimento da linguagem.".

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