Aura (1)

“ (…) quando o uso natural das formas produtivas é paralisado pelo regime da propriedade, o crescimento dos meios técnicos, dos ritmos, das fontes de energia, tende a um uso contranatura. Este uso contranatura é a guerra que, pelas destruições que arrasta, demonstra que a sociedade não tem a maturidade suficiente para fazer da técnica o seu órgão, que a técnica não está suficientemente elaborada para dominar as forças sociais elementares. A guerra imperialista com os seus aspectos atrozes  tem como factor determinante o desfasamento entre a existência de poderosos meios de produção e a insuficiência do seu uso para fins produtivos (por outras palavras, o desemprego e a falta de mercados). A guerra imperialista é uma revolta da técnica que reclama sob forma de «material humano» aquilo que a sociedade lhe arrancou como matéria natural. Em vez de canalizar os rios  dirige o caudal humano para o leito das trincheiras; em vez de usar os seus aviões para semear a terra, espalha as suas bombas incendiárias sobre as cidades; no uso bélico do gás, encontrou um novo meio de acabar com a aura.
Fiat ars, pereat mundus (que se faça arte, mesmo que o mundo pereça), é esta a palavra de ordem do fascismo que, como Marinetti reconhece, espera da guerra a satisfação artística de uma percepção sensível modificada pela técnica. Aí reside, evidentemente, a perfeita realização da arte pela arte. Na época de Homero a humanidade oferecia-se em espectáculo aos desuses do Olimpo; agora converteu-se no seu próprio espectáculo. Tornou-se bastante estranha a si mesma para conseguir viver a sua própria destruição como uma fruição estética de primeira ordem. Esta é a estetização da política que o fascismo pratica. A resposta do comunismo é a politização da arte."
Walter Benjamin, in “A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica” (1936)

Adenda (mensagem recebida)
Até que, meu caro, me disponibilizo a discutir o tema "aura", quem sabe até a ontologia da fotografia e outros (e ainda outros e quaisquer) temas que lhe interessem. Mas antes demore-se por aqui; depois, e com tempo, fale comigo. Promete?


Nova adenda (nova mensagem recebida)
Pensei e pensei, e aqui vai, meu caro, uma notinha rabiscada em jeito de fragmento corrido. Interessante, é interessante o Aura (1): provoca (céus) o conteúdo de outras minhas leituras e escritas bosquejadas. Não lhe disse, recordo-me agora, mas talvez o tenha intuído, quem sabe? Seja. Fiquei "parada-estatelada" na surpresa e numa questão que formulei assim: Como raios se pode tecer uma teoria de materialismo dialéctico messiânico? O que tenho lido e procurado e estudado tem-me ajudado a compreender W. Benjamin e o seu ambiente culturalmente específico, historicamente transitório. Adiante que a manhã me chama. Saiba que, em paralelo, estou a ler uma edição especial da National Geografic sobre Heisenberg e o Principio da Incerteza. Creio que também percebe porquê; e creio, meu caro, que também iria gostar de ler. Os meus caminhos (ui os meus caminhos, já ouviu falar no nanomundo?) passam sempre por "compreender" mais um bocadinho a física quântica, essa outra paixão que me enche os neurónios (de preferência os piramidais) de pontos de interrogação graaannndes!!!

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