Adeus ó se calhar, oiça o que pensa e diz Finkielkraut


Há quem garanta, meu caro, que os filósofos é que sabem e eu até concordo. Imagine que eu que nada sei, sempre que me apanho numa tertúlia (agora é moda haver tertúlias em restaurantes de fusão; de fusão, Santo Deus, cá para mim é com fusão, adiante)...; sempre que me apanho numa dessas tertúlias, dizia eu, meu caro, disparo: oiçam o que pensa e diz Finkielkraut. Olhei, espantado, podia lá ser, uma fada linda, ainda não refeita dos fritos da consoada, já a debitar sabedoria. Primeiro apreciei-a, ruborizou-se mas não se deu por achada. Depois, perguntei curioso: oiço quem? Eu sabia, retorquiu ela enquanto rodopiava (gostei de a ver de cabelo apanhado e vestido novo), eu sabia, outro que tal, não sabe quem é Finkielkraut. Não sei, respondi em jeito-maneira: se calhar, vem daí mal ao mundo. Que pisco atrevido, suspirou. Se vem daí mal ao mundo, não sei e nem me interessa, continuou apressada, como hoje tenho muito (e muito e muito) que fazer, deixo-lhe um pensamento de Finkielkraut sobre o sistema de ensino: pensamento que respiguei de uma entrevista que lhe fizeram (datada de Julho de 2014). Assim:
P. "O senhor critica severamente o sistema de ensino e deseja que os professores reganhem o poder que antigamente tinham. Será isso ainda possível?
R. Numa democracia nem tudo pode ser democrático, e a escola certamente que não. Há diferença entre os alunos e os professores. Porque queremos que as crianças de tenra idade também participem, é-lhes dada a palavra sem antes dominarem a língua. Porque razão se deseja suprimir o método clássico em que o mestre fala? Porque há smartphones? Não precisam de aprender porque têm todo o conhecimento ao alcance da mão? De modo nenhum, pois se não fizerem esforço para ouvir e aprender nada sabem. Não vejo porque razão devemos adaptar o ensino às novas tecnologias. Bem ao contrário, as novas tecnologias obrigam-nos a manter o ensino como sempre foi. Li há pouco que os dirigentes de grandes empresas tecnológicas como Yahoo e Facebook matriculam os seus filhos nas escolas totalmente isoladas (da modernidade), sem computadores. Com quadros negros, giz e livros, estantes cheias de livros que se podem manusear. Esses já compreenderam."
Nem tempo tive para fazer um comentário do tamanho de um microsegundo. Ela despedia-se com um adeus, trauteado à proa de um sorriso: "adeus ó se calhar, oiça o que pensa e diz Finkielkraut.

(Mensagem recebida)

Sei, meu caro, sei que não gostou do meu adeus apressado, mas acontece, há dias em que não tenho mãos a medir, é tudo para ontem, hoje é um desses dias. Adiante. Dou-lhe nota de um livro de Finkielkraut, leia-o quando puder, o mais depressa que puder (e sempre a pensar em mim). Nem de propósito, ou a propósito, tanto faz. O Alain, meu caro, sabe o que diz; se o encontrar diga-lhe que me conhece e conte-lhe que eu tive pais (sorte a minha, merecida está bem de ver, óbvio) que puseram uma estante com livros e um quadro de giz no meu quarto de fada-menina. Olhe que eram modernices!... Sou assim, assim, isso, também tenho um coração inteligente, que se há-de fazer!

Adenda
É de certeza oportuno, a propósito do investimento na educação, ouvir o que pensa Fernando Savater; e revisitar Ayn Rand.

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