O que é o gesto?

(Mensagem recebida)
De facto, pode fazer-se algo e não agir, como o poeta que faz um drama, mas não o age [agere no sentido de “recitar uma parte”]: ao contrário, o actor age o drama, mas não o faz. Analogamente o drama é feito [fit] pelo poeta, mas não é agido [agitur]; pelo actor é agido, mas não feito. Por outro lado, o imperator [o magistrado investido com o poder supremo], em relação ao qual se usa a expressão res gerere [cumprir algo, no sentido de apreendê-la em si, assumir-lhe a inteira responsabilidade], neste nem faz, nem age, mas gerit, isto é, suporta [sustinet]. (VarrãoDe lingua latina, VI, VIII, 77)

Porquê esta citação de Varrão? O que pretenderá ela desta vez? Estou a sentir os seus neurónios destrambelhados, meu caro, a perguntarem uns aos outros. Fácil a resposta, muito fácil, mesmo muito fácil. Ora oiça. Fui, de novo, rever um "cheirinho" de um filme sobre a minha vida enquanto Hipátia. Recordei o aturado (ponha aturado nisso) trabalho que tive a estudar o "Almagesto" do Ptolomeu, enquanto pensava comigo que o cinema tem o seu centro no gesto e não na imagem (daí que pertença aos domínios da ética e da política e não da estética). Vai daí pus a minha alma (e aura) a bom recato - hoje é um dia importante - e fui de carreirinha matutar numa observação preciosa sobre o sentido do gesto, seja, a citação que lhe envio. Varrão (vá lá, leia a citação, devagar como convém) inscreve o gesto na esfera da acção mas distingue o agir do fazer. Se puser os olhos em mim, meu caro aprendiz de filósofo, sentirá que os meus gestos são comunicação de uma comunicabilidade. Aconteceu um curto circuito no seu cérebro? Não sabe o que é o "Almagesto"? Olha a novidade! Alma minha! Gesto meu!

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