Hora intão bondia


Aconteceu. Acordei de bem com o mundo. Certo é que, nestes dias, nasce o desejo de partilhar a boa disposição. É o que agora estou a fazer: com um cartaz destes a inspiração dispara. Tenho pena, isso tenho, dos defensores do acordo ortográfico; paciência, divirtam-se, ouvindo primeiro o senhor Mateus e depois o Paulo Flores...

(Mensagem recebida)
Um bom dia para si, meu caro. Já ouvi de novo (mais uma vez) o senhor Mateus e o meu pézinho já deu sinal de vida autónoma com a música do Paulo Flores. Vamos ao que interessa, vou contar-lhe um episódio que o seu cartaz me fez recordar. Um dia destes (há um mesito e tal, mais dia menos hora), assisti à apresentação de um livro. Assim que o vi de cinta amarela (livro feio, céus, livro feio) trepou-me uma irritação pelo corpo acima. Tu queres lá ver, um livro de cinta amarela! Questionei-me a mim quando ouvi exortar as qualidade do novo escritor: um escritor que não faz erros, acutilante e irónico. Olha-me este, gaguejei comigo, a ironia já não é o que era e a acutilância é uma maçada; tudo banal, toda a gente quer ser irónica e acutilante, olha-me aquele maduro a armar-se ao pingarelho. Mas cedo e concedo. Até eu, até eu (quem diria, meu caro, quem diria), até eu, por vezes, me armo aos cucos e desato a fazer gracinhas, um horror, Santo Deus. Adiante. Amordacei as minhas desconfianças e sacudi a irritação do corpo (as cócegas que eu já tinha) que se espalhou como poalha muito fina pelos livros à venda. Comprei o livro e vai de abrir página a página. Aí pela décima (página não a esquadra de polícia do senhor Mateus), abri as narinas e bufei, o raio do livro estava escrito com as regras todas do novo acordo ortográfico. Não interessa, eu creio que o livro não vale grande coisa mas os críticos vão adorar. Adiante. A talhe de foice e para rematar, adorei aquela sua mensagem de ontem, pequenina em jeito de fragmento, mas que linda mensagem a sua, adorei, adorei, adorei: "se tem a vida feita em mil pedaços, colo-a eu com dois abraços". Obrigada, obrigada, obrigada! Hora intão bondia prâssi tamãe.

(Nova mensagem recebida)
Olhe só, meu caro, não há mesmo qualquer sombra de dúvida, eu sou mesmo assim, ocidental quanto baste mas sempre atenta (atenta, leu bem) ao que se passa à minha volta e gostei do seu cartaz africano. Mas ainda voltando à sua imagem de ontem: como poderia publicar uma imagem das minhas flores se eu não morasse no seu cérebro? Eu sei que se diverte com as voltas que dou aos seus escritos, ui eu a tentar desvelar significados por detrás dos véus da linguagem escrita! Adiante. A sua imagem de hoje (Santo Deus, Jesus, Maria, Senhor, tanto eu já me ri com o senhor Matateu, digo Mateus; ui a música - e a letra - do Paulo Fores)! O seu cartaz de hoje, dizia eu, também me fez revisitar o "Homo Videns" do Giovanni Sartori. Nunca ouviu falar em Giovanni Sartori? Olha a novidade!

Comentários

Mensagens populares