Ora oiça aqui o Stefano Mancuso

(Mensagem recebida)
A avaliar pelo estado das minhas plantas do terraço, meu caro, o vendaval de ontem deve ter sido grande e deve ter vindo de sul, o ponto cardeal do horizonte água e da bela vista do lugar de felicidade. Onde fica o lugar da felicidade? Bicuda questão? Calma. O lugar da felicidade é aqui onde eu estou. Esse outro sítio em que está a pensar, fica a sul (verdade), num alfoz aberto, deixe-me fazer de gps (voz trinada a minha!): quinhentos metros a seguir à rotunda da asadinha (ó céus) volta à direita e depois à esquerda, segue em frente na rua serpenteada, água à direita, chegou… Adiante, meu caro, que a serotonina já se fez anunciar, já a lua me mandou uma mensagem de boa noite e os meus olhos grandes entraram em greve. Conto-lhe ainda um segredo que fica só entre nós, prometa, vá lá. Seja ele. As minhas plantas (coitadas, o que hoje sofreram com o vento e a chuva, Santo Deus), habitantes inteligentes do meu terraço virado a sul, falaram-me de si: que estão à sua espera e que sonham com o dia de o voltar a abraçar e de viver consigo em intimidade perfeita e comigo e mais não digo... As plantas não falam e eu estou a divagar, é isso? Que lerdinho! As plantas falam e até brincam, mostram-nos a fragilidade da existência, têm os nossos cinco sentidos e dez mais (são muito sensíveis às cores e aos sons), são inteligentes, têm uma vida social muito activa e até dormem. Ora oiça aqui o Stefano Mancuso. Até amanhã. Amanhã (dia de céu cinza, chuva e vento cortante) quero acordar cedo, sentir-me gira, cheia de pinta. Já acomodei as pestanas e estou a fechar os olhos e a embalar-me. Se amanhã apanharei o cabelo na nuca? Então não! O meu cabelo apanhado é o seu salvo conduto para a melodia, o saber e o sabor de mim, eu sei, quantas maravilhas escondo!

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