Máxima nietzchiana: importante é chegar a ser o que se é


Imagem sublime esta, uma imagem do "Furacão Patrícia", um ciclone tropical... É um bom de partida para uma aproximação ao poder da natureza e para uma aproximação (metafórica) à pouco conhecida doutrina nietzchiana que tenta respeitar a angustiante riqueza do mundo: a vontade de poder. (1) Lê-se no aforismo 1060 de "A Vontade de Poder" de Nietzche: "E sabem o que é para mim o "mundo"? Terei de mostrá-lo no meu espelho? Este mundo: uma imensidão de força, sem começo, sem fim; uma quantidade fixa, férrea de força que não se torna maior nem menor, que não se consome mas que apenas se transforma, invariavelmente enquanto totalidade (...) está presente em todas as partes, como jogo de forças e ondas de forças, sendo ao mesmo tempo uno e múltiplo, acumulando-se aqui e diminuindo além, um mar de forças que fluem e que si agitam em si mesmas, transformando-se eternamente, retornando eternamente, com infinitos anos de retorno, com fluxo e refluxo das suas formas, que se desenvolvem das mais simples às mais complexas, do mais tranquilo, frio, rígido passa ao mais ardente, selvagem e contraditório, e que a seguir à abundância volta à simplicidade, do jogo das contradições regressa ao prazer da harmonia, afirmando-se a si mesmo ainda nesta igualdade dos seus caudais e dos seus anos, abençoando-se a si mesmo como aquilo que tem de retornar eternamente, como um devir que não conhece nem a saciedade nem o fastio nem o cansaço. Este meu mundo dionisíaco que se cria a si mesmo eternamente e eternamente a si mesmo se destrói, este mundo misterioso das voluptuosidades duplas, este meu "para além do bem e do mal", sem meta, a menos que se encontre na felicidade do círculo; sem vontade, a menos que um anel tenha uma boa vontade para si mesmo. Querem um nome para este mundo? Uma solução para todos os seus enigmas? (...) Este mundo é a vontade de poder e nada mais! E também vocês mesmos são esta vontade de poder e nada mais!". (2) A perspectiva nietzchiana "o mundo entendido como vontade de poder" (vontade de poder desvinculada do âmbito psicológico) defende que o espírito não é mais que "uma pequena razão", "um pequeno   instrumento e um pequeno brinquedo" ao serviço dessa "grande razão" que é o corpo; reivindica a importância que têm os aspectos fisiológicos para o pensamento e converte o corpo no "centro de gravidade" da vida. (3) Importa deixar claro que esta perspectiva não faz apelo à desinibição total e ao descontrolo das paixões. não faz, isso não faz. Exige, isso sim, para confeccionar um corpo à nossa medida, exige, não só trabalho físico e intelectual (aturado, constante e permanente) quanto exclui a excessiva satisfação consigo mesmo. (4) Para "chegar a ser o que se é" há que conceber o próprio eu como um devir constante.

(Mensagem recebida)
Podia agora, meu caro (podia mas não quero) armar uma discussão consigo: claro que não concordo com muito do que o Nietzche disse e escreveu; as estórias do eterno retorno e do super homem têm muito que se lhe diga. Fica já agendada, para um outro dia, uma discussão de criar bicho. Adiante. No entretanto, vá direitinho a uma agência de discussão, inscreva-se e prepare-se... Cuide-se, não lhe vou dar abébias. 

(Nova mensagem recebida)
Tudo bem, meu caro, concordo, verdade. Concordo que vale a pena (mais de cem e muitos anos depois da máxima de Nietzche) ouvir Steven Pinker afrontar dogmas sobre a natureza humana: antes da nossa agendada discussão, óbvio... Sugiro-lhe que oiça devagar e que dê uma particular atenção à parte final. 

(Nova mensagem recebida)
Demore-se uma meia horita, meu caro, no pensamento da Martha Nussbaum (aqui)... Talvez possamos (quem sabe) alargar a nossa discussão.

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