Os melros falam?


É verdade sim, gosto de respostas prontas, verdadeiras, claras. E muito aprecio modos de fazer ver outras perspectivas e outras possibilidades; mas acontece, pois acontece, acontece-me (por vezes) ficar macambúzio... Numa dessas vezes, um melro pousou no arame da trave do meu quintal como quem aterra em aeroporto livre de obstáculos. Pousou (e posou) fanfarrão, bico amarelo envernizado, penas pretas luzidias e retintas, olhos de frente. Em chilreio sábio, em jeito de quem vê a vida do ar, encarou-me e disse distintamente:
- " bom dia, tenho um montão de coisas para te contar...". 

Adenda (mensagem recebida)

Nem queira saber, meu caro, nem queira saber quanto eu me diverti quando li a sua pergunta, vida a minha! Acha mesmo que os melros falam? Santo Deus! Claro que os melros são pessoas, mas não falam. Foi um sonho seu, apenas um sonho; e mais, garanto-lhe, não era um melro, era uma melra. Se sou eu que estou na imagem que lhe envio? Não, não sou, mas ainda bem que a imagem o faz pensar em mim, faço-lhe falta, eu e os meus olhos grandes bugalhados e o meu chilrear sábio e único... Agora lhe envio um estudo onde se prova que a actividade cerebral durante o "sono REM (Rapid Eye Movement, sleep)": nesta fase do sono (a fase em que ocorrem os sonhos), se as imagens parecem reais, é porque são mesmo reais para o cérebro... Que interpretação eu faço do seu sonho?! Faço, não faço, ponto. Saiba que não é fácil fazer interpretações dos sonhos, muito há ainda por saber para os decifrar; porém, ajudará muito saber o muito que se parecem com a vida. Adiante que hoje tenho muito (e muito) que fazer, e o dia está farrusco.

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