Tanto ainda hoje sei chamar a magia

Chair de poule sur un humain - Crédits Ildar Sagdejev  / Wikipédia
(Mensagem recebida)
Ele há cada coisa que me acontece, meu caro, ele há cada cada uma! Percebo daqui (os meus neurónios não me enganam) que está deveras intrigado com a imagem que lhe envio. Mas reconheça, não seja assim, reconheça que as minhas mensagens têm muita verdade, muita imaginação, claro que sim, mas também são espelho de verdades dos dias. Por vezes, fico até vaidosa por causa da forma como vê e como interpreta a minha escrita: saboreia e delicia-se com a minha escrita, sei que sim, sei que ela tem cheiro e aconchego e poesia e formas de mim que encaixam em si, até me arrepio. Mas adiante. Adiante ainda que tudo o que acabo de dizer tem a ver com a imagem. Pois foi, meu caro, pensava eu em arrepios de vertigem quando, záscatrapaz, dou de caras com um estudo do Adam Zeman que diz que no cérebro "tanto na leitura de prosa como na leitura de versos, a região encarregada da leitura se ilumina; mas, no caso da poesia, outras zonas do cérebro mais implicadas no sistema de emoções, activam-se tal qual como fazem com a música: são zonas do cérebro que (através dos mágicos "arrectores pilii": "pilii" é o plural de "pilus"- pêlo em latim -) desencadeiam aquilo que diz de "pele de galinha". Ou seja: a musicalidade das palavras existe e, digo eu, constitui a base da música, que também assenta num ritmo preciso e milimétrico...  Bingo! Aposto, meu caro, que já entende a imagem. Está curioso (como eu também) em saber mais dos "arrectores pilii". Adiante, mas sempre lhe digo que se confundisse "pilus" com "pilum" a sua surpresa seria maior porque, nesse caso, o plural latino de "pilum" seria "pila". Adiante que a conversa ainda descamba; mas, vá lá, sorria, ria-se, sempre desopila... De facto, as palavras são magníficas, tantas situações elas podem contar, infinitas, sérias ou divertidas. Estou agora a recordar-me de um carro de rodas quadradas (um carro de rodas quadradas, vida a minha!) com dois simpáticos bonecos desenhados. Fica para um outro dia a estória do carro de rodas quadradas, é um estória bonita que tem guardas e meninos e poesia e imaginação e sorrisos bonitos e galhofa e alegria e chega para lá que eu estou primeiro e agora é a minha vez. Hoje, meu caro, quero deixar-lhe um lindo poeminha do Fernando Pessoa (pode ouvi-lo aqui). É um poeminha que tem muito a ver comigo em menina: sei só agora (ai como o recordo) a razão de ser do primeiro arrepio de pele, um rapaz a correr atrás de mim, tanto eu já era desejada... Tanto ainda hoje sei chamar a magia!

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