As crianças em perigo, em Portugal, não fazem parte da agenda política
“Apesar do sistema de acolhimento ter como intenção garantir o direito
da criança e do jovem a crescer e a sentir-se pertença de uma família, também é
um facto que a forma como o próprio sistema de acolhimento está desenhado
permite a coexistência de duas respostas, que pretendendo ser distintas na
duração do tempo de acolhimento, conforme preconiza a LPCJP, acaba por promover
a circulação das crianças e jovens, em função da sua idade e da modalidade do
acolhimento prevista na LPCJP (curta duração ou prolongado), independentemente
de tal salvaguardar ou não o seu superior interesse. Por outro lado, a
volatilidade das crianças e jovens pelo sistema de acolhimento pode estar
associada ao atual modelo de organização e de funcionamento das instituições
que limitam, quer a faixa etária para a sua intervenção, quer a capacitação
para atender e entender as crianças e jovens que, em algum momento,
nomeadamente a partir da adolescência, revelam perturbações do comportamento e
das emoções.”
É
absolutamente espantoso: as crianças em perigo, em Portugal, não fazem parte da agenda política.
(1) Pode aqui ser consultado o relatório Casa 2014: trata-se
de um relatório elaborado anualmente, e que dá conta do “estado do sistema de
acolhimento de crianças e jovens em perigo” em Portugal.
(2) Seria estultícia não reconhecer a
importância da elaboração do relatório. Porém, fácil é constatar que todos os
anos é sempre mais do mesmo: números e números,
percentagens e percentagens, tendo por base um questionário com variáveis manifestamente
desadequadas… Adiante.
(3) Mas é absolutamente espantoso. Assume-se
(leia-se a parte do relatório acima transcrita) que o sistema está mal
desenhado, que não se respeita o superior interesse das crianças e jovens, que o modelo de organização das instituições de acolhimento está desadequado: e
então?
(4) Há vários anos que alguns (quixotescamente) vêm alertando para a urgente reforma do sistema de protecção das crianças e jovens em perigo, em Portugal: se alguns responsáveis estivessem atentos a uns resultados de trabalhos de investigação (este por exemplo), perceberiam, por um lado, que é urgente "alargar" o conceito de perigo e, por outro lado, saberiam quão urgente é a qualificação dos profissionais e das instituições.
(5) Mas há mais: lê-se esta notícia e custa a acreditar (ou se calhar até não!).
(6) Olha-se para a nossa vizinha Espanha e percebe-se a importância de uma nova lei que modifique o sistema de protecção de crianças e jovens e que facilite novos saberes e novas práticas.
(7) É absolutamente espantoso: as crianças em perigo, em Portugal, não fazem parte da agenda política.
Adenda (mensagem recebida)
Adenda (mensagem recebida)
Confirmo, meu caro, confirmo que as crianças em perigo, em Portugal, não estão na agenda política; os políticos gostam mais de apregoar aos sete ventos que agora sim, agora é que é de vez: vai regredir o abandono escolar, vai aumentar a frequência da educação pré-escolar, e a escolaridade obrigatória (12 anos) será (sem sombra de dúvidas, dizem eles, que cínicos) para todos, agora é que vai ser. Adiante, antes que me dê para falar sobre o que eles dizem sobre a frequência do ensino superior politécnico e universitário (tadinhos)... Quero deixar, meu caro, para sua reflexão (quando tiver tempo, fale comigo que eu explico tudo o que quiser saber; e se não quiser saber eu explico-lhe na mesma) este exemplo de verdadeira educação... Fantástico, fabulástico, fantástico e fabulástico, palavras para quê?!
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