Íbis (eu e tu)

(Poeminha recebido)
Sou íbis
e tu o meu outro
tal qual gota num rio

Sou íbis
e tu o meu outro
tal qual gelo num cristal

Sou íbis
e tu o meu outro
tal qual nó num fio

Sou íbis
e tu o meu outro
tal qual marca num original

…/…
sou íbis sagrada íntima voz vem de recôndito concerto
és íbis sagrado - alguém em mim me invade e desperto

Adenda
Oh, oh, oh, meu caro, quanto me divirto consigo, não entende (aposto singelo contra dobrado) nadica de nada, deste meu poeminha domingueiro-água-vida. Tanto penso em si que me apetece (coisa que não farei nunca, juro) chamar-lhe cabeça de Íbis (cabeça de pardal, para os íntimos!), cabeça do deus da Sabedoria e do Tempo. Adiante que ainda digo, sem querer, o que jurei que nunca diria. Deixe-me contar-lhe das minhas travessuras. Comprei os dois livros de que lhe falei. Decididamente (não tenho dúvidas), entre Numero Zero a História do Corpo Humano escolho o segundo. Diminuiu-se, meu caro (vida a minha), parece-me, alguma apetência para a leitura de alguns géneros literários, excepção feita à Poesia (mas como diz  Margarit: Poesia não é Literatura, é outra coisa!)…. Maaaaassss..., como não há regra sem excepção, levei-me às compras na minha livraria preferida, e (ó Céus, ó Dulcineia - "dulce Ana", ó Sancho) descobri que a editora D. Quixote está a celebrar o seu aniversário com o texto integral do D. Quixote de La Mancha a um preço irrecusável, que, de resto, também se pode considerar uma história muito particular dos múltiplos aspectos da nossa vida. Confesso (antes deste confesso deveria ter paragrafado, quero lá saber, mas se fosse uma paragrafada aprazível, outro galo cantaria), confesso, repito, a minha ignorância sobre a qualidade do autor da tradução, Miguel Serras Pereira, e ainda não me apeteceu ir à procura dele; mas como eu e o Cervantes somos amigos de longa data e trocamos livros, hace tiempo, tudo na maior… Seja o que o deus Íbis quiser, a verdade é que se a cabeça dele é sua (penso eu que sim), a elegância deslumbrante e airosa e única da deusa Íbis é minha, minha, minha e só minha. Sou Íbis sagrada, eu, eu e só eu, sou um verdadeiro milagre da natureza, risonhamente prendada e simplificadora das almas, sou, pois não sou? E nem lhe digo (e nem lhe conto) o quanto tanto os meus olhos grandes abrangem na catedral de um mundo amanhecente! Nestes dias de sol e calor enlato raios de sol para o Inverno, sabe, pois não sabe?

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