Acode-me, ó Crio, deus do frio
(Mensagem recebida)
Nem queira saber, meu
caro, nem queira saber o calor que hoje faz, tanto e tanto calor. E logo no dia do meu almoço, acha
justo? Eu não. Quanto mais água bebo mais vontade tenho de beber, água fresquinha quanto eu te adoro! Revelo-lhe um segredo: estou linda de cabelo apanhado e
curvas suaves sugestivas. Adiante. Já estava farta do insistente "fazer olhinhos de carneiro mal morto" de um
maduro (que eu conheço de ginjeira) quando recebo uma
mensagem a falar-me de “janelas do cérebro”… “Janelas do cérebro”? Devolvi a
mensagem de imediato. Que é lá isso? Digitei. Claro que sim, tenha calma, claro que eu sei
bem que se trata de explicar o sistema nervoso em interacção com o restante
organismo, mas sempre quis saber do que se tratava e quem estaria a provocar-me e porquê; mais alguém saberá que eu sou a janela (a única) do seu cérebro?! Quem, mas quem?! Nem tempo tive para pestanejar (ui as minhas pestanas de hoje, tão, tão assim, Jesus, Maria!).
A resposta não demorou três segundos a chegar: “grosso
modo, essas janelas constituem um conjunto de pequenas regiões que se situam na
linha média da massa encefálica, em redor do terceiro e o quarto ventrículo
(são os OCV - órgãos circumventriculares, que uns dizem que são sete e outros
dizem que são nove); têm a particularidade de possuir uma vascularização muito
rica, constituída por capilares sanguíneos de lúmen com grande diâmetro e que
são altamente permeáveis às substâncias que circulam no sangue, e a parede
destes capilares é constituída por células endoteliais que possuem pequenas
fenestras, ou poros, na sua membrana celular…, através destas “janelas” o
sistema nervoso encontra-se em permanente comunicação com o resto do organismo”.
Não li nem mais uma letra, meu caro; ou bem que o calor já me estava a derreter os
miolos ou minha sede me estava a embotar o pensamento..., a minha imaginação delirava doidivanas. Não percebi (e nem quis perceber), nadinha, nadinha de nada. Plim, plimplim, plimplim,
nova mensagem: “saiba que é um desses
órgãos circumventriculares, o órgão subfornical, que controla a sua sensação de
sede e o seu comportamento dipsogénico, a vontade de beber água…”... Como é que é?! O órgão subfornical
é que controla a minha vontade de beber água?! O órgão subfornical (fornical?!) é
constituído por capilares (capilar?!) sanguíneos de lúmen com grande diâmetro (com grande diâmetro?!). Que calores! ... Acode-me, ó Crio, deus do frio.
Adenda
Quanto ainda me estou a rir, meu caro, o
sol está mesmo a fritar-me a massa encefálica, vida a minha! Órgão subfornical! Jesus, Maria! Aposto que se estará bem à beira mar, com uma brisa simpática a lembrar que
a semana se rendeu ao sol e ao descanso e com a maré a subir à nossa procura, o sol
adoçado em prata e luz à minha procura, que falta eu faço ao sol... Segredo-lhe que o deus Crio passou
por aqui, meio atrapalhado. Porquê? Olha a dificuldade em saber, até a massa é encefálica, Santo Deus!
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