Um quilo e mais quase meio
(Mensagem recebida)
Adormeci já a madrugada se fazia anunciar, e, sabe lá bem, meu caro, a noite que eu tive, cristal para aqui, cristal para acolá, tanto eu sonhei com cristal, noite a minha! Foi assim... Mas há mais, oiça-me. Acordei estremunhada, a minha memória acordou comigo e soprou-me (além de cristal) as palavras jardim, coração, e (ó céus) uma expressão estranha: "um quilo e mais quase meio". Fiz-me de entendida enquanto me arranjava depois de um bom banho de espuma, e percebi: jardim de cristal, tudo bem, jardim do palácio de cristal; coração de cristal, sem dúvida, o meu coração sensível e transitável... Agora "um quilo e mais quase meio" que diabo significaria? Arranjei-me a modos de quem vai viajar para uma festa, blusa levezinha, calças de ganga com curvas, ténis fabulásticos, mala de tiracolo e casaco de cabedal fino... Se apanhei o cabelo? Claro, fico sempre mais desportista. Sim, notei, notei que estou ligeiramente mais magra, mas não, não estou mais magra "um quilo e mais quase meio", não estou. Olálá! Lembrei-me do livro do Denis Le Bihan "O cérebro de cristal", e bingo: o cérebro humano pesa um quilo e mais quase meio... Oh, oh, meu caro, não está surpreendido com os meus sonhos, não está surpreendido comigo, claro que está, claro que me adora e eu gosto. Revelo-lhe, já que estou em maré de confidências, revelo-lhe, dizia, um segredo que guardo há uns tempos, segredo que os cientistas se esforçam por descobrir afincadamente: o corpo caloso do meu cérebro é tão rico, tão rico em conexões que não só não tem dificuldade em se adaptar a situações novas quanto sabe desenhar o futuro. Quanto é que o meu cérebro pesa, é isso que quer saber? Pois sim, pois sim, olha a novidade, pesa "um quilo e mais quase meio"!
Não sei, claro que não sei, meu caro, não sei se os papéis e os papelinhos pesavam "um quilo e mais quase meio", isso eu não sei mesmo, mas que aquele maduro Draghi teve medo, medo, medinho, miúfa, lá isso teve... Ela é das minhas!
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