Estou feliz, vamos nessa, vanessa!

Concordei, sim, iríamos almoçar para fazer as pazes, aquela nossa zanga tinha sido feia. Mas pus a condição de ser eu a escolher o lugar e a ementa. Estava mais que visto que queria ser eu a conduzir a conversa, já que zangas daquelas não davam em nada, não valiam a pena e eu tinha tido culpa pelo que tinha acontecido. Ela aplaudiu a minha decisão. também já deitava a vontade (de um almocinho a sós) pelos seus lindos olhos bogalhados. Foi assim que fomos parar a uma esplanada de um deslumbrante alfoz já conhecido. Sentou-se virada para o rio e, olhando-me fitamente, saiu-se com uma afirmação saltitante: nos seus olhos faisca um azul-água-marinha, o rio está juvenil e o sol aquece-me". Eu medi-a de cima abaixo, apreciei-lhe demoradamente as curvas do vestido verde limo seco e perdi-me nela. Garanto que na sua boca entreaberta pousava aquela perpétua interrogação das pessoas persistentemente maravilhadas. Puxou-me pela mão e disse: não seja galholho, dê-me um beijo de paz, ponha a zanga de lado e venha comigo escolher o peixe. Tenho ideia de que me falou (a tentar mudar de assunto) da nova reforma do sistema educativo finlandês - "na Finlândia, meu caro, está a preparar-se a maior reforma de sempre na educação, abandonando-se o tradicional ensino por disciplinas e promovendo-se um ensino por tópicos, como o tópico "União Europeia" que engloba a aprendizagem de economia, história, línguas e geografia...; nada de uma de uma hora de história seguida de uma hora de química e de uma hora de matemática" - mas eu não dei seguimento à sua provocação (ela sabe bem que eu gosto das novidades em educação), saboreei uma estranha plenitude, senti por ela uma ternura agradecida, e concordei na escolha de uma dourada de mar (escalada) para os dois... Riu-se divertida e trauteou de franja solta, sem gaguejar e em alegre desprendimento: estou feliz, vamos nessa, vanessa!  

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