Ada Lovelace?! Na RI?!
"Nem pense, meu caro, nem pense que agora vai dormir, depois de me provocar...". Ainda a madrugada se ajeitava, e já assim a sempre única fada me interpelava (quanto sono eu tinha, Deus meu!), dizendo que tudo bem, patati, pátátá, iniciação à programação no 1.º ciclo do ensino básico, coisas de crato e afins, tudo bem, mas antes importante, importante, meu caro, é haver regras e trabalho e exigência na leccionação... E, zás cataprás, desatou a relatar-me, tintim por tintim, a sua multifacetada experiência de ensino. Toda esta zanga porque (imagine-se), ao de leve e como quem não quer a coisa, eu lhe tinha pedido uma opinião sobre este projecto. Mas disse-me mais, disse-me ainda que eu devia passar os olhos por aqui; e segredou-me que ela estava a preparar uma comunicação que iria apresentar (não sabia bem ainda onde), no próximo dia 13 de Outubro de 2015, (o dia da Ada Lovelace - "sabe, meu caro, que foi a Ada que inventou o conceito de sub-rotina?"- ), dando continuidade à excelente e muito estudada comunicação que ela tinha apresentado, em 14 de Outubro de 2014, na RI... Sonhei e delirei pela certa! Ada Lovelace?! Na RI?!
Adenda (mensagem recebida)
Adenda (mensagem recebida)
Está tudo bem consigo, meu caro? Já vi que sonhou comigo (não, não delirou), gosto, gosto, gosto. Aqui estou eu de volta às mensagens matinais! Ena, há quanto
tempo, não é verdade? Abaixo tem o rabisco de ontem, de que lhe falei. Não foi
escrito num guardanapo de papel de café, mas podia muito bem ter sido, tão
pequenino, tão rabiscado, coitado, coitadito! Ainda não tive oportunidade, franja a minha, de ir espreitar
o Sol de hoje, e (Senhor!) a falta que eu já sinto. É como um vício, meu caro, é
como um vício. Não se amofine. Se ontem o pensamento estava torpe, hoje está
pior, é cansaço. Preciso de um dia ou dois de férias, acho que os mereço, ai pois mereço, ansiedade a minha! Aí
tem arrumadinho o meu textinho-rabiscado, para se deliciar, escrevo muito bem. semeio palavras, pois não semeio? Eu até sei que é aos pés dos deuses que o vento adormece, o que eu não sei!
Hoje vou deixar que o Sol me aqueça
Tenho uma folha de papel branco sobre a
mesa, uma esferográfica azul na mão direita que ora pousa, inerte, sobre a
folha, ora bate, tique, tique, no dedo indicador da mão esquerda. Tique, tique,
pausa, pausa. Alternadamente. Que chatice! Há um texto a escrever e as palavras
teimam em não florir no papel. Florir!... O raio da Primavera, que nos dá uma
moleza daquelas... A cabeça em velocidade de galope, sem correspondente no corpo.
Nova pausa. Não lhe disse, meu carísssimo poeta-pensador, mas sentei-me num café
maneirinho e sossegado, engoli (conhece a pressa com que como, com
prejuízo dos rituais...) um almoço adequado - segui as suas sensatas e amorosas
recomendações - e dispus-me a escrever um textinho, daqueles rabiscados
(quantas vezes nos guardanapos de papel, conhece essa mania, claro que conhece,
o que já se riu com isso, quero dizer, riu-se de mim que sou toda manias, pois
não sou?). Mas como as palavras estão preguiçosas (repare que nada tenho contra
as palavras, só sei que o calor repentino me entorpeceu o pensamento), observo os
outros clientes sentados na sala, todos tão calados, de cara fixa no prato,
todos tão tristes. Pausa. Pausa, de novo. Tique, tique, no dedo indicador
esquerdo. Sabe, hoje é dia para estar calada e quieta. Ou, então, para falar,
em silêncio, de comigo para mim. Vou abandonar a esferográfica azul e vou
vaguear pelas ruas, deixar que o sol me aqueça. Mas antes, olhe, se faz favor,
traz-me um café e a canela, sim?
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