Vamos lá a ver se a gente se entende...

Vamos lá a ver se a gente se entende, esta notícia quer dizer o quê?! Perplexo com a pergunta, olhei para a única fada que quando se zanga altera o curso normal das marés, e disse-lhe que a notícia era mais uma prova de que o sistema português de protecção de crianças e jovens em perigo carecia de uma reforma significativa; até lhe referi que havia para aí (e por aí) uma série de grupos de trabalho e de comissões que, de certeza e no tempo útil, sustentariam a qualidade dessa reforma... Nem me deixou respirar: "Deixe-se de palavreados e de grupos de trabalho e de comissões, diga-me, primeiro, qual é o lar de juventude para onde vai aquela jovem, sempre quero conhecer as condições de acolhimento; e, depois, saiba que são necessárias sete medidas urgentes para reformar o sistema de protecção de crianças e jovens em perigo em Portugal: (1) pôr uns patins a uns quantos responsáveis pelo sistema; (2) auditar o funcionamento de todas as instituições com crianças e jovens em perigo a seu cargo; (3) nomear um (pelo menos um) procurador para a família (para a família e não só para as crianças e jovens em perigo) em cada município; (4) especializar os juízes dos tribunais de família (a especialização dos advogados e de outros profissionais virá por arrasto); (5) questionar a actuação do Provedor de Justiça no âmbito das crianças e jovens em perigo; (6) criar um observatório (um observatório, não um miradouro) das crianças e jovens em risco e em perigo; (7) instituir um Provedor da Criança"... Ia eu ripostar, e já ela se despedia, elegante e segura: "vida a minha, estou fartinha de engonhas!"

(Adenda - mensagem recebida - 16/12/2014)
Bem que eu tinha razão, meu caro, leia esta notícia, leia com muita atenção, nem de propósito... Vê, ora vê como eu tenho razão?! Até me arrepio! Lá estão eles com o passa culpas! Comissão para aqui, comissão para acolá, comissão para aqui e comissão para acolá... Oh céus, passo-me, ai passo, passo. Mas aquela gente ainda não percebeu que há cerca de 11000 crianças e jovens ((dando de barato que os números estão correctos na "espécie" de relatórios (CASA 2013) que são produzidos)) no sistema de protecção de crianças em jovens em perigo, crianças e jovens que crescem e se desenvolvem todos e cada dia... Sabe porque é que eu digo "espécie" de relatórios?! Não sabe, mas eu abro uma pontinha do véu: vá e demore-se na página 26 do CASA 2013 e tente perceber o que aconteceu às crianças e jovens que cessaram o acolhimento (então as crianças e o jovens que cessam o acolhimento não são ouvidos?); pare na página 44 e leia o gráfico relativo à escolaridade (que susto!); vá à página 84 e veja quantas crianças e jovens não têm ainda projecto de vida, e mais não digo por agora, que raiva...
"Vida a minha, estou mesmo, estou mesmo fartinha de engonhas!"

(Nova adenda - mensagem recebida - 17/12/2014)
Tudo junto, meu caro, acontece sempre tudo junto, quando me irrito... Li esta notícia e fui ler estas orientações. Quanto à notícia: revela o sensacionalismo típico de quem não sabe do que fala, e também prova que muito há a fazer na formação inicial, especializada e contínua dos jornalistas; o que estava em causa, era uma actuação de emergência perante uma situação de perigo eminente para as crianças... Quanto às orientações: pois não está mal, não senhor não está, até que as orientações revelam saber e bom senso (leia pelo menos a conclusão), mas pressupõem que a arquitectura do sistema está correctamente delineada e que funciona...; a talhe de foice, sempre é importante recorrer ao J.Bowlby mas olhe que muita água correu já debaixo das pontes e muito mais se sabe sobre o tema; não é curioso (e triste) que na bibliografia (os autores nunca ouviram falar na possibilidade de identificar acessos electrónicos?) se cite apenas uma obra do século XXI?... Quanto eu me irrito, oh vida! 

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