Ela disse tapvelas?! Tapvelas?!

É isso, meu caro, é mesmo isso... Mas é isso o quê? Quer dizer-me que este ano muitos portugueses vão ter uma consoada triste, muito triste? Perguntei eu à única fada que, em tempo de Natal, sempre e só pensa nos outros. Esfregou os olhos grandes, preocupada, e disse baixinho: está mesmo lélé da cuca, pois não está? Afrontei-a fulo e zangado, e (imagine-se) até as palavras esfreguei para luzirem o máximo: tenha tino e tento na língua, lélé da cuca, eu, homessa! Fez que não me ouviu, ajeitou a sua silhueta-pêra torneada (quão bem feita e quão linda ela é!), e continuou de pescoço altivo, narinas soltas e cabelo apanhado: ná, não dormiu, apanhou sol e alguns neurónios estouraram, só pode ser! O coração saltou-me no peito, os ouvidos desataram a zumbir, o intestino libertou-se em ventosidades e sons, aflitos e trauteados, quase não consegui falar tanto a língua se enrolava: acabou, desta vez acabou, ultrapassou todos os limites, chega de conversa, ponto, acabou-se... Oh, oh, meu caro, como eu o adoro, sussurrou-me em voz meiga e doce, é o meu herói, amo ver que se excita, e é mesmo um meu alter ego, acaba de confirmar (as suas últimas palavras são o diagnóstico certo, aplicam-se que nem uma luva), acaba de confirmar, meu caro, o que eu há muito imaginava, vida a minha, Jesus, Maria, José: ele está mesmo lélé da cuca... Alto aí, calma, pensei comigo, o lélé da cuca não sou eu, ela disse ele (disse que eu ouvi), ela não está a falar de mim, uff, que alívio... Claro que, meu caro, não é (e nem ainda está, para lá caminha a passos largos) lélé da cuca, interrompeu-me o pensamento, este sim, já está lélé da cuca...; e andei eu, veja só, continuou ela enquanto afivelava um sorrisinho matreiro de ã, ã, ã, andei eu a matutar horas a fio neste longo curto prazo: ou bem que aquele guru se esqueceu de alertar os políticos portugueses para a guerra mundial que se avizinha ou disse-lhes (em privado) que o destino de Portugal é zarpar para outras paragens, em jangada de pedra, em caravelas ou em tapvelas, comendo pão seco e olhando para o horizonte... Ela disse tapvelas?! Tapvelas?!

(Adenda - mensagem recebida)
A propósito, meu caro, arranje um tempinho e revisite a primeira guerra mundial... Faz já cem anos, vida a minha! Como terá sido a noite de Natal nas trincheiras?! O lindo menino Jesus me livre e guarde da terceira guerra mundial, Santo Deus!

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