Alma escreve-se com as mesmas letras de lama

Sim, é verdade, é verdade que José Sócrates está preso preventivamente, numa cadeia de Évora, e com a sua reputação enlameada… Mas, por maior que seja (ou possa ser) a ambivalência de sentimentos (ou estados de alma) em relação a ele, não se justificam e nem se suportam as humilhações a que foi sujeito, desde sexta-feira passada. É demais para ser verdade... Vamos por partes. (1) Ter sido detido no aeroporto (no final do dia) na presença de dois órgãos de comunicação social (previamente avisados da sua chegada e da sua prevista detenção) é, nem mais nem menos, que uma saga justiceira e um regresso ao tempo do pelourinho. (2) Saga justiceira (em tempo do pelourinho) que se prolongou (e arrastou) até domingo passado, enriquecida por factos "mais ou menos romanceados" (por alguma comunicação social), e em jeito de vida quotidiana rasca na casa dos segredos. (3) A presunção de inocência de José Sócrates (e dos outros arguidos) deveria ter exigido mais decoro institucional, nomeadamente na divulgação de informação simples, clara e sucinta a que os cidadãos têm direito, e que deveria ter sido prestada (em tempo útil) pelas instituições da justiça. (4) A medida de coacção de prisão preventiva sem acusação formulada é, provavelmente, uma medida que carece de ser pensada, quanto à sua razão de ser e quanto à sua aplicabilidade. (5) E que dizer de uma caução de três milhões de euros que permite que um outro (em aparente situação similar à de José Sócrates) passe os dias ao ar livre? (6) A morbidez e a insensatez dos vários e variados escândalos (que têm atingido a sociedade portuguesa nos últimos anos) atingem o que de mais nos torna cidadãos, a nossa alma. (7) Tenhamos todos a nobreza de espírito necessária para rejeitar comportamentos inadequados, autistas, mesquinhos, revanchistas...: é o tempo certo e é uma óptima altura para recordar que alma se escreve com as mesmas letras de lama...

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